6
MAIO/JUNHO 2009
Capa
Ao mesmo tempo em que se
discute a interiorização do médico,
por meio de programas do Minis-
tério da Saúde de difícil viabilização
devido à alta complexidade exigida,
organizações não-governamentais
comprovam a cada dia que é possí-
vel levar saúde de qualidade a regiões
remotas, geralmente menos favoreci-
das por estarem distantes de grandes
centros e terem enormes dificulda-
des de acesso.
As organizações Saúde e Alegria
e Expedicionários da Saúde são
apenas duas, dentre muitos outros
exemplos bem-sucedidos de entida-
des que substituem, com competên-
cia, o papel governamental, levando
medicina de ponta à população indí-
gena brasileira, normalmente exclu-
ída de qualquer assistência, seja por
problemas culturais ou pelas dificul-
dades de acesso.
Foi em 2003 que um grupo
de amigos, formado por médicos
e executivos, criou a Associação
Assunto será tema central, com a simulação de tenda de atendimento médico no
estande da AMB, na Feira Hospitalar, de 2 a 5 de junho, no Expo Center Norte, em SP
Fotos: André François/José Luiz G. Amaral
Expedicionários da Saúde. A ideia,
cujo foco principal era levar aten-
dimento cirúrgico a comunidades
indígenas isoladas, havia surgido
um ano antes, quando, durante uma
viagem ao Pico da Neblina (AM), o
grupo teve a oportunidade de conhe-
cer uma aldeia Yanomami.
Hoje, passados seis anos, já foram
realizadas 13 expedições e atendidos
17 mil casos. A equipe dos Expedi-
cionários da Saúde é composta por
18 médicos, três enfermeiros, um
assistente e 10 pessoas que dão apoio
logístico.
“São de sete a oito dias cirúrgicos
tentando interferir o mínimo possí-
vel na cultura”, afirma Márcia Abda-
la, coordenadora de logística.
As jornadas pela região amazô-
nica começaram em 2004 e para que
ocorressem foram feitas parcerias.
A logística de cada operação
começa quatro meses antes, por
meio dos contatos com parceiros,
apoiadores e patrocinadores. “São
cinco toneladas de carga, com medi-
camentos a geradores. Se faltar uma
agulha, não tem como mandar
buscar”, explica Márcia. “Parte da
carga não volta. Deixamos guarda-
da no local mais próximo da futura
expedição”, finaliza.
O Exército ajuda no transporte e
na montagem do material. Depois de
finalizado o trabalho, o apoio logís-
tico dos Expedicionários e a comu-
nidade montam as instalações que
serão necessárias. “O centro cirúrgi-
co é uma barraca que foi adaptada.
São duas mesas de anestesia em uma
sala, o que é excepcional”, afirma
Arthur Uldesman, anestesiologista e
participante dos Expedicionários da
Saúde desde 2007. “A qualidade do
trabalho que eu faço lá é idêntica ao
que realizo no Hospital das Clínicas
de Campinas”, completa.
Cada cidade tem um Distrito
Sanitário Especial Indígena (Disei),
com pólos bases que ficam próximos
Interiorização
da Medicina