MAIO/JUNHO 2009
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mensagem do
PRESIDENTE
No. Nós temosmédicos
José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da Associação
Médica Brasileira
De tempos em tempos, nos
vemos em polarizações inade-
quadas: do pessimismo e do
complexo de inferioridade ao
ufanismo igualmente injusti-
ficável. Ontem, questionáva-
mos a existência de petróleo
no país. Há pouco menos de
um século, éramos qualifica-
dos como uma republiqueta de
bananas. Hoje, somos autos-
suficientes em petróleo, temos
a segunda maior produção de
carne bovina e soja, a tercei-
ra de milho. Destacamo-nos
Yes, nós temos bananas
Yes, nós temos bananas
Bananas pra dar e vender
Banana menina tem vitamina
Banana engorda e faz crescer
Vai para a França o café, pois é
Para o Japão o algodão, pois não
Pro mundo inteiro, homem ou mulher
Bananas para quem quiser
Mate para o Paraguai
Ouro do bolso da gente não sai
Somos da crise, se ela vier
Bananas para quem quiser
Braguinha-Alberto Ribeiro, 1937
na produção de frutas, café e
etanol. Os aviões da Embraer
estão presentes em 78 países.
É importante bem avaliar-
mos essa trajetória de progres-
so real vivida pelo Estado
brasileiro nos últimos 20 anos.
Os resultados positivos servem
para reafirmar a correção dos
caminhos que foram escolhi-
dos. Não devem ser, porém,
motivo para que abracemos
um clima de euforia que nos
faça tirar os pés do chão.
Ainda temos enormes proble-
mas a resolver. Nosso desafio é
vencer as desigualdades sociais
e econômicas que fazem do
país dois
Brasis
.
Nossa grande riqueza é
o brasileiro. Nem sempre,
porém, valorizamos devida-
mente nossos recursos huma-
nos. Na área da saúde, temos
340 mil médicos comple-
tamente marginalizados no
Sistema Único de Saúde (SUS).
É inaceitável assistir 200
milhões de habitantes fora
dos melhores padrões da
medicina atual.
Enquanto vários seto-
res tornam-se exemplos
de sucesso, justamente por
trabalhar com qualidade, o
que se temdivulgado como
solução para atender a
saúde dos brasileiros
é uma medicina reducionista,
atrasada e desqualificada. A
saúde pública brasileira conti-
nua ainda ligada a soluções
e propostas ultrapassadas,
apesar do potencial enorme
de médicos disponíveis para
trabalhar no SUS.
Paramos no início do sécu-
lo XX e é necessário que nos
localizemos apropriadamente
no século XXI. Seguimos uma
política de saúde que está mais
para a época em que só tínha-
mos “bananas, bananas para
dar e vender”.