acesso à Web de todas as escolas do País. Sei
que o Ministério das Telecomunicações está
apoiando isso e buscaremos também
recursos do Fust [Fundo de Universalização
dos Serviços de Telecomunicações], que
pode financiar programas de telessaúde e de
educação à distância como esse.
Temporão
– Eu gostaria de inverter a
pergunta. O que vocês podem fazer para
qualificar o sistema de saúde brasileiro?
Vocês são absolutamente fundamentais. São
vocês que, no cotidiano, constróem esse
sistema. Minha idéia é que o Ministério seja
visto por vocês como um parceiro
fundamental, como um ator fundamental de
trabalho conjunto, integrado, articulado
para que a gente possa enfrentar esse grande
desafio.
Temporão
– Esse foi um esforço importante
das entidades, que levaram anos para
construir o que consideram como a melhor
abordagem para trabalhar com um conjunto
de procedimentos médicos. O Ministério da
Saúde trabalha comuma outra metodologia,
que consiste no SIA-SUS (Sistema de
Informação Ambulatorial) e no SIH
(Sistema de Informação Hospitalar), mas
acho que há uma possibilidade de
começarmos uma conversa para ver de que
maneira a proposta das entidades pode ser
acoplada às estratégias e prioridades do
governo. Entendo que é uma velha e justa
reivindicação das entidades, mas talvez seja
necessário fazer alguns ajustes. Eu falei para
o presidente da AMB que o Ministério está
disposto a sentar e discutir aquilo que a
entidade considera relevante dentro desse
conjunto de iniciativas.
O que os profissionais dos serviços
públicos de saúde podem esperar
do Ministério nos próximos quatro
anos?
Quais as perspectivas de
implantação da CBHPM no rol de
procedimentos da ANS e no
próprio Sistema Único de Saúde?
A abertura de escolas de medicina
sem necessidade social
comprovada tem preocupado muito
Entrevista - José Gomes Temporão
Maio | Junho 2007
Jornal da
3
as entidades médicas. Qual a sua
posição como médico e o que o
Ministério da Saúde pode fazer
para ajudar a solucionar esse
problema, que não é apenas
brasileiro, mas atinge outros
países da América Latina?
Qual a sua opinião sobre o acordo
que abre brechas para a validação
automática dos diplomas de
brasileiros formados em Cuba?
Como o Ministério poderia atuar
para a valorização da relação
médico-paciente?
Temporão
– Eu já disse para os presidentes
da AMB e do CFM que o nosso Ministério
está disposto a ajudar também nessa
discussão, inclusive atuando junto ao
ministro da Educação. Vejo com
preocupação essa questão, a abertura
indiscriminada de escolas médicas. E, além
disso, a permanência de escolas médicas
abertas com má avaliação do seu
desempenho. São preocupantes, porque não
é possível perceber ali uma instituição que
forme médicos com qualidade. Do ponto de
vista da saúde pública e do governo, isso é
preocupante. O que me dispus a fazer foi
retomarmos essa discussão e eume disponho
a fazer uma intermediação junto ao MEC
para discutir isso demaneira conjunta.
Temporão
– Acho que todo e qualquer
médico que se forma fora do Brasil tem que
se submeter às exigências do Conselho
Federal de Medicina e validar seu diploma.
Caso ele não consiga validar, não pode
exercer a profissão. Vou defender essa
posição sempre. É a mesma exigência que
qualquer país faz a médicos brasileiros. Não
vejo porque flexibilizar essa questão.
Temporão
– Ela é essencial no processo
terapêutico. Se a relação médico-paciente
não se dá no contexto do colóquio singular,
onde o médico é o primeiro remédio que o
paciente recebe, se essa possibilidade não se
d á po r qu e s t õ e s e s t r u t u r a i s , d e
especificidade das condições em que se
exerce o trabalho médico, o processo de
tratamento, de cura está comprometido.
Mas o senhor não vê uma forma de
o Ministério atuar para melhorar
essa relação?
A formação e o treinamento
constante também são importantes
para humanizar o atendimento
hospitalar?
O plano de carreira, cargos e
salários específico para o médico
no SUS não seria um caminho
isso?
Temporão
– Com franqueza, o Ministério
não tem muito a fazer sobre isso. Ele tem a
fazer indiretamente, mas diretamente o que
temos que garantir é, de um lado, melhorar
as condições de trabalho médico; de outro,
oferecer condições de acolhimento, de
conforto ao cidadão, ao paciente, que
permitam que essa interlocução tão
importante se dê demaneira adequada.
Temporão
– Com certeza. Fico muito
preocupado e temeroso em formarmos
muitos técnicos em medicina e poucos
médicos. Uma coisa é ser técnico em
medicina, outra é ser médico. Refiro-me a
uma visão mais abrangente, humanista, de
ouvir o paciente. Mas de quanto tempo o
médico que trabalha num ambulatório
público numa periferia de uma grande
capital dispõe para ouvir seus pacientes
hoje? Temo dizer que ele não tem muito
tempo e, portanto, não está oferecendo uma
medicina de qualidade para essas pessoas.
Essa é uma questão estrutural que depende
de uma série de outras questões, mas só o
fato de aceitarmos e assumirmos que isso
está acontecendo já é umprimeiro passo.
Temporão
– Pode ser. Não tenho certeza. É
uma discussão pertinente, que deve ser
enfrentada. Tem uma dificuldade legal que é
o fato do Brasil ser uma federação. Eu não
poderia impor aos Estados eMunicípios uma
estrutura de carreiras, mas poderia pensar
num plano que estabelecesse grandes
diretrizes e padrões que pudessem ser
seguidos pelos Estados e Municípios. Acho
que é possível discutir alguma coisa nesse
sentido. Pode ser sim uma saída importante
para reduzir a precarização. Vamos ver.
Vamos discutir.