Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  4 / 32 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 4 / 32 Next Page
Page Background

acesso à Web de todas as escolas do País. Sei

que o Ministério das Telecomunicações está

apoiando isso e buscaremos também

recursos do Fust [Fundo de Universalização

dos Serviços de Telecomunicações], que

pode financiar programas de telessaúde e de

educação à distância como esse.

Temporão

– Eu gostaria de inverter a

pergunta. O que vocês podem fazer para

qualificar o sistema de saúde brasileiro?

Vocês são absolutamente fundamentais. São

vocês que, no cotidiano, constróem esse

sistema. Minha idéia é que o Ministério seja

visto por vocês como um parceiro

fundamental, como um ator fundamental de

trabalho conjunto, integrado, articulado

para que a gente possa enfrentar esse grande

desafio.

Temporão

– Esse foi um esforço importante

das entidades, que levaram anos para

construir o que consideram como a melhor

abordagem para trabalhar com um conjunto

de procedimentos médicos. O Ministério da

Saúde trabalha comuma outra metodologia,

que consiste no SIA-SUS (Sistema de

Informação Ambulatorial) e no SIH

(Sistema de Informação Hospitalar), mas

acho que há uma possibilidade de

começarmos uma conversa para ver de que

maneira a proposta das entidades pode ser

acoplada às estratégias e prioridades do

governo. Entendo que é uma velha e justa

reivindicação das entidades, mas talvez seja

necessário fazer alguns ajustes. Eu falei para

o presidente da AMB que o Ministério está

disposto a sentar e discutir aquilo que a

entidade considera relevante dentro desse

conjunto de iniciativas.

O que os profissionais dos serviços

públicos de saúde podem esperar

do Ministério nos próximos quatro

anos?

Quais as perspectivas de

implantação da CBHPM no rol de

procedimentos da ANS e no

próprio Sistema Único de Saúde?

A abertura de escolas de medicina

sem necessidade social

comprovada tem preocupado muito

Entrevista - José Gomes Temporão

Maio | Junho 2007

Jornal da

3

as entidades médicas. Qual a sua

posição como médico e o que o

Ministério da Saúde pode fazer

para ajudar a solucionar esse

problema, que não é apenas

brasileiro, mas atinge outros

países da América Latina?

Qual a sua opinião sobre o acordo

que abre brechas para a validação

automática dos diplomas de

brasileiros formados em Cuba?

Como o Ministério poderia atuar

para a valorização da relação

médico-paciente?

Temporão

– Eu já disse para os presidentes

da AMB e do CFM que o nosso Ministério

está disposto a ajudar também nessa

discussão, inclusive atuando junto ao

ministro da Educação. Vejo com

preocupação essa questão, a abertura

indiscriminada de escolas médicas. E, além

disso, a permanência de escolas médicas

abertas com má avaliação do seu

desempenho. São preocupantes, porque não

é possível perceber ali uma instituição que

forme médicos com qualidade. Do ponto de

vista da saúde pública e do governo, isso é

preocupante. O que me dispus a fazer foi

retomarmos essa discussão e eume disponho

a fazer uma intermediação junto ao MEC

para discutir isso demaneira conjunta.

Temporão

– Acho que todo e qualquer

médico que se forma fora do Brasil tem que

se submeter às exigências do Conselho

Federal de Medicina e validar seu diploma.

Caso ele não consiga validar, não pode

exercer a profissão. Vou defender essa

posição sempre. É a mesma exigência que

qualquer país faz a médicos brasileiros. Não

vejo porque flexibilizar essa questão.

Temporão

– Ela é essencial no processo

terapêutico. Se a relação médico-paciente

não se dá no contexto do colóquio singular,

onde o médico é o primeiro remédio que o

paciente recebe, se essa possibilidade não se

d á po r qu e s t õ e s e s t r u t u r a i s , d e

especificidade das condições em que se

exerce o trabalho médico, o processo de

tratamento, de cura está comprometido.

Mas o senhor não vê uma forma de

o Ministério atuar para melhorar

essa relação?

A formação e o treinamento

constante também são importantes

para humanizar o atendimento

hospitalar?

O plano de carreira, cargos e

salários específico para o médico

no SUS não seria um caminho

isso?

Temporão

– Com franqueza, o Ministério

não tem muito a fazer sobre isso. Ele tem a

fazer indiretamente, mas diretamente o que

temos que garantir é, de um lado, melhorar

as condições de trabalho médico; de outro,

oferecer condições de acolhimento, de

conforto ao cidadão, ao paciente, que

permitam que essa interlocução tão

importante se dê demaneira adequada.

Temporão

– Com certeza. Fico muito

preocupado e temeroso em formarmos

muitos técnicos em medicina e poucos

médicos. Uma coisa é ser técnico em

medicina, outra é ser médico. Refiro-me a

uma visão mais abrangente, humanista, de

ouvir o paciente. Mas de quanto tempo o

médico que trabalha num ambulatório

público numa periferia de uma grande

capital dispõe para ouvir seus pacientes

hoje? Temo dizer que ele não tem muito

tempo e, portanto, não está oferecendo uma

medicina de qualidade para essas pessoas.

Essa é uma questão estrutural que depende

de uma série de outras questões, mas só o

fato de aceitarmos e assumirmos que isso

está acontecendo já é umprimeiro passo.

Temporão

– Pode ser. Não tenho certeza. É

uma discussão pertinente, que deve ser

enfrentada. Tem uma dificuldade legal que é

o fato do Brasil ser uma federação. Eu não

poderia impor aos Estados eMunicípios uma

estrutura de carreiras, mas poderia pensar

num plano que estabelecesse grandes

diretrizes e padrões que pudessem ser

seguidos pelos Estados e Municípios. Acho

que é possível discutir alguma coisa nesse

sentido. Pode ser sim uma saída importante

para reduzir a precarização. Vamos ver.

Vamos discutir.