Background Image
Table of Contents Table of Contents
Previous Page  6 / 12 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 6 / 12 Next Page
Page Background

JAMB

JANEIRO/FEVEREIRO DE 2003

6

Atenção à Saúde

“No diagnóstico que fizemos da

realidade brasileira, em termos do

seu sistema de saúde, nós identi-

ficamos algumas dificuldades que

precisam ser enfrentadas. Identifi-

camos em primeiro lugar que o

princípio da universalidade está

ainda por se construir de forma ple-

na, apesar de termos conseguido

incorporar ao Sistema Único de

Saúde milhões e milhões de bra-

sileiros que antes da constituição

de 1988 eram atendidos por cari-

dades, por deferências de institui-

ções filantrópicas ou de seguimen-

tos desarticulados dos próprios ní-

veis de governo, mas ainda é algo

por se construir. Então, essa pri-

meira preocupação de ampliação

do acesso da população à atenção

de Saúde em todos os seus níveis,

na promoção, na prevenção, na re-

cuperação, na reabilitação, parti-

cularmente, em relação à assistên-

cia que termina sendo uma das

principais funções da Saúde em si.

Isso significa, principalmente, am-

pliar de forma expressiva, a aten-

ção básica. Assumimos o compro-

misso, no nosso programa de go-

verno, de ampliarmos o Programa

de Saúde da Família, a atenção

básica, produzindo uma duplica-

ção do número de equipes que há

no país hoje da população cober-

ta, que está na faixa de 50 milhões

de pessoas e fazermos chegar a

100 milhões de pessoas nesse

processo, sem prejuízo de que

esse programa possa ter o respei-

to às características regionais, de

ministro da Saúde,

Humberto Costa, partici-

pou, no mês de janeiro,

em Brasília, de um encontro com as

principais entidades médicas nacio-

nais (foto ao lado). O objetivo foi

apresentar ao governo as preocupa-

ções da classe médica em relação à

área da saúde. Entre os 200 convida-

dos presentes ao café da manhã, pro-

movido pelo Conselho Federal de

Medicina (CFM), estavam represen-

tantes dos Conselhos Regionais de

Medicina,AssociaçãoMédica Brasi-

leira, Sociedades de Especialidade,

Federação Nacional dos Médicos,

ConfederaçãoMédicaBrasileira, Sin-

dicatos Médicos e Direção Nacional

dos Estudantes de Medicina.

O presidente do CFM, Edson de

Oliveira Andrade, na abertura do

evento, afirmou que toda a classe

médica deposita muita esperança na

nova gestão que se inicia, e que os

médicos brasileiros querem partici-

par ativamente do processo de cons-

trução das políticas de Saúde do país.

Dentre as preocupações das entida-

des médicas apresentadas ao minis-

tro Humberto Costa, o presidente do

CFM destacou a necessidade de es-

tabelecimento de novos critérios para

a abertura de escolas médicas e a ne-

cessidade de mudar e regulamentar

as legislações relativas aos Con-

selhos deMedicina e aoAtoMédico.

O presidente da AMB, Eleuses

Vieira de Paiva, destacou a defesa

do SUS e de seus três princípios bá-

sicos - universalidade, equidade e

integralidade - como uma das prio-

ridades deste novo governo que se

inicia, bem como o fortalecimento

do Conselho Nacional de Saúde,

que não pode deixar de contar com

a participação de médicos em sua

composição.

O presidente da Federação

Nacional dos Médicos, Héder

Murari, relatou a importância de

uma nova política de formação dos

recursos humanos para a área de

Saúde, com novas formas de

contratação dos médicos do Progra-

ma Saúde da Família. O represen-

tante da Confederação Médica Bra-

Encontro com o ministro da Saúde

Ministro da Saúde, Humberto Costa, se reúne em Brasília com entidades médicas

sileira, Ricardo Paiva,

afirmou que uma das

preocupações da classe

médica é com o papel

que as agências regula-

doras da área da Saúde

vão desempenhar nesta

nova gestão.

Perfil

Membro do Partido

dos Trabalhadores des-

de a sua fundação, o mé-

dico psiquiatra e clínico

geral, pernambucano,

Humberto Sérgio Costa

Lima assume a pasta de

Saúde aos 45 anos.

Humberto Costa come-

çou sua carreira em

1975, no movimento es-

tudantil da Universidade Federal de

Pernambuco. Depois de formado,

presidiu a Associação Pernam-

bucana de Médicos Residentes e foi

primeiro-secretário do Sindicato

dos Médicos de Pernambuco. Costa

foi eleito deputado estadual em

1990 e federal em 1994. Em 2000,

elegeu-se o vereador mais votado

da história de Recife, com 27 mil

votos. Já foi secretário de saúde da

prefeitura de Recife no atual gover-

no e participou da Comissão de

Saúde da Câmara dos Deputados.

cada cidade, cada estado, mas en-

tendendo que esse é o centro de um

processo de mudança do modelo

global de atenção à Saúde no Bra-

sil. Segundo, o processo de amplia-

ção da presença do poder público

junto à população na prestação de

assistência tem que se acompanhar

tanto da melhoria da qualidade do

atendimento que já existe, quanto de

que essa ampliação se acompanhe

de um processo de humanização do

atendimento, de garantia dos direi-

tos fundamentais e elementares dos

usuários do sis-

tema. Então, nós

queremos eleger

como prioridade

fundamental e

foi centro do dis-

curso do então

candidato, Lula,

a melhoria da

qualidade do

a t e n d i me n t o

passando por

uma promoção

de uma cons-

ciência dessa

população usuária, dos direitos que

ela tem, de que ela é, de fato, quem

paga pela existência desse sistema,

com o trabalho de sensibilização dos

profissionais no sentido de que pos-

sa ter essa mesma consciência e

prestar o melhor de si nesse atendi-

mento que é realizado. Obviamente

que nenhuma dessas duas inten-

ções possa se materializar sem que

venhamos nos debruçar sobre um

problema gravíssimo, que ao longo

desse tempo somente se aprofun-

dou no sistema público, que é o pro-

blema da política de pessoal, da

política de Recursos Humanos. O

quarto ponto é de garantir à popula-

ção brasileira o acesso à assistên-

cia farmacêutica, e aí eu digo assis-

tência farmacêutica no sentido que

ela tem. Não apenas o acesso aos

medicamentos, mas a toda uma po-

lítica de orientação adequada à uti-

lização dos medicamentos, evitan-

do agravos à saúde da população a

partir da utilização inadequada dos

fármacos. Então, pretendemos, nes-

sa área, ampliar

fortemente a dis-

tribuição de medi-

camentos no ser-

viço público. Te-

mos uma limita-

ção de recursos

importante no or-

çamento, mas va-

mos trabalhar

numa perspectiva

de que possamos

superá-la ao lon-

go desses quatro

anos e acima tudo

que possamos, no final, ter interven-

ções estruturantes. Não interessa ao

poder público hoje simplesmente

ampliar a compra de medicamentos

por si só, mas garantir que o país

possa investir e dominar a tec-

nologia na formulação, na elabora-

ção de outros, que possa superar a

ociosidade tanto da indústria priva-

da nacional quanto nos laboratórios

estatais e assim promoveremos uma

diversificação e uma ampliação na

produção daquilo que é diretamen-

te consumido no serviço público, no

Sistema Único de Saúde. Um ou-

tro ponto importante é que nós pos-

samos desenvolver ações para res-

gatar uma dívida importante que o

Brasil tem com sua população na

área da Saúde, que é o combate

pleno, efetivo, às endemias. Sejam

aquelas de caráter nacional, sejam

aquelas mais localizadas e que po-

dem, por mudança de cultura, por

mudança de orientação na política,

por investimento em recursos, ser

erradicadas ou fortemente contro-

ladas e aí algumas delas é até, di-

gamos, uma coisa extremamente

arcaica, estarmos falando hoje, um

país que durante esses anos todos

viveu sob a égide da modernidade,

ser o segundo país do mundo em

prevalência e incidência de doenças

como a Hanseníase, que pode ser

fortemente controlada ou erradicada

do nosso país. Outro ponto impor-

tante é a questão do controle soci-

al. Os avanços conseguidos pelo

Sistema Único de Saúde ao longo

desses anos obviamente depende-

ram do acúmulo teórico, do acúmulo

acadêmico, dos debates sobre o

programa, sobre o SUS, das dispu-

tas que se travaram no parlamento,

das iniciativas de gestores estadu-

ais e municipais, mas sem dúvida,

um dos pontos importantes para que

o sistema avançasse e a saúde seja

hoje a política social onde nós te-

mos mais avanços foi exatamente o

controle social, a construção, com

todas as suas imperfeições, de Con-

selhos Municipais, de Conselhos Es-

taduais, do Conselho Nacional, dos

Nas eleições de 2002 concorreu ao

governo de Pernambuco, mas foi

derrotado pelo candidato do

PMDB, Jarbas Vasconcelos.

Acompanhe, a seguir, o que pen-

sa o ministro sobre as questões le-

vantadas pelas entidades médicas.

Fotos: Márcio Arruda

Conselhos Gestores de Unida-

des, de Conselhos Distritais, que

permitiram que a população fos-

se interferindo cada vez mais na

definição das políticas, na fisca-

lização dos recursos e na aplica-

ção das próprias políticas. Então,

essas são as prioridades que nós

estabelecemos para esses qua-

tro anos de governo”.

Formação Profissional

“No que diz respeito aos proble-

mas na formação profissional, eu

não tenho dúvida de que precisa-

mos nos preocupar com a qualida-

de dos profissionais que estão sen-

do formados hoje. Concordamos

que o processo de constituição de

novas unidades de formação pro-

fissional tem que passar pelo con-

trole social, tem que ser objeto da

discussão no Conselho Nacional

de Saúde nas várias esferas do Mi-

nistério, nas diversas categorias,

mas também estamos profunda-

mente preocupados com a viabi-

lização das nossas prioridades, por

exemplo, garantir o acesso da po-

pulação ao sistema de atenção de

assistência à saúde implica uma

discussão concreta sobre a neces-

sidade real de profissionais que te-

mos hoje. Obviamente dentro de

condições que possam estimular

o interesse pela interiorização,

pela ida aos lugares de mais difí-

cil acesso, mas também com

ações concretas que induzam que

isso venha a acontecer. Nós en-

tendemos que essa deve ser uma

preocupação importante”.