T
oledo
SF
et
al
.
302
R
ev
A
ssoc
M
ed
B
ras
2015; 61(4):296-307
0,3% (Tabela 6). Apesar de haver diferença a favor do par-
to cesáreo, a metanálise não demonstra redução signifi-
cativa no risco absoluto de infecção entre os dois grupos
(IC95%: -0,00 a -0,00; p=0,02; I
2
=74%; Figura 3.4).
Efeito do parto cesáreo a pedido materno ou sem indicação
sobre a taxa de internação em UTI neonatal
Amédia de internação emUTI neonatal obtida a partir dos
estudos (
B
)
2,4,6,8,10
que avaliam esse desfecho é de 1,2% no
grupo de cesárea
versus
1,8% no grupo de parto vaginal pla-
nejado (Tabela 6). Apesar de o grupo de parto cesáreo a pe-
dido materno apresentar redução na taxa de internação
em comparação ao grupo de parto vaginal planejado pela
média simples de todos os estudos, a metanálise demons-
tra que essa redução não é significativa (IC95%: -0,01 a
-0,00; p=0,84; I
2
=0%, Figura 3.5).
R
ecomendações
finais
Concluímos que o parto cesáreo a pedido materno ou sem
indicação aumenta o risco de complicações hemorrágicas,
infecciosas, no aleitamento materno e respiratórias para o
recém-nascido. Houve redução do risco de cesárea emer-
gencial e do escore de Apgar ≤ 7 quando comparado com
o parto vaginal planejado. O parto cesáreo a pedido não
apresenta aumento ou redução significativos de mortali-
dade materna, complicações de ferida operatória, asfixia
neonatal, infecção neonatal e internação emUTI neonatal.
Baseado nessas informações e na ausência de indica-
ções maternas e/ou fetais para a resolução por cesariana,
um parto vaginal deverá ser seguro e adequado para orien-
tação da gestante. Após serem explicitados os riscos e be-
nefícios de cada resolução obstétrica, elencando detalha-
damente os riscos em cada via de parturição, na hipótese
de negação por parto vaginal, a cesariana não deverá ser
realizada antes da 39
a
semana de idade gestacional, sendo
desaconselhado o parto cesáreo em pacientes que desejem
uma prole maior, diante dos riscos de acretismo placentá-
rio, placenta de inserção baixa e histerectomias nos partos
subsequentes, e também desaconselhado como uma op-
ção não dolorosa de parto em detrimento ao parto vaginal.
Nesse contexto, a partir da solicitação materna por
parto cesáreo, é proposto que o médico busque conhecer
commaior ênfase os valores pessoais e as preferências da
gestante, e os aborde em um processo de tomada de de-
cisões compartilhadas (
A
)
11
(
D
).
12,13
Portanto, investigam-
-se as motivações declaradas e subjacentes da paciente,
como o medo intenso do parto, denominado tocofobia,
e outros fatores associados à cesariana a pedido mater-
no: gravidez complicada anterior; experiência adversa no
trabalho de parto ou no parto; traços de personalidade
ansiosa ou evitativa; história de abuso sexual (
D
)
14,15
(
B
).
16,17
Estudos indicam que mulheres submetidas à cesaria-
na a pedido apresentam maior frequência de manifesta-
ções psicopatológicas e doenças psiquiátricas. Especifica-
mente, recente metanálise identificou uma prevalência na
comunidade de 3% de transtorno de estresse pós-traumá-
tico pós-parto (
A
).
18
Assim, o parto cesáreo pode ser visto
por certas pacientes como um recurso para atenuar o so-
frimento oriundo de sintomas ansiosos ou depressivos. Por
isso, recomenda-se que o médico também esteja atento à
necessidade de avaliação e tratamento de psiquiatra e/ou
psicólogo com
expertise
em saúde mental perinatal.
R
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