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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

7

Durante a reunião do Conselho

Científico, Henrique Walter Pinotti,

professor emérito da Faculdade de Medi-

cina da USP e representante da Socie-

dade Brasileira de Cirurgia Digestiva,

ofereceu à Associação Médica Brasileira

retrato de Alípio Corrêa Netto, um dos

idealizadores da entidade.

“Este quadro traduz bem as carac-

terísticas de Alípio, um homem despo-

jado, de grande liderança, que pensava

muito no coletivo”, disse Pinotti.

Ele destacou algumas passagens do

trabalho realizado por Alípio (veja o

discurso abaixo), como a pioneira insti-

tuição, em 1952, de grupos interessados

em dedicar-se ao ensino, à pesquisa e à

prática de cirurgias com a mesma afecção.

“Antigamente, os cirurgiões opera-

vamora umpulmão, ora um coração, ora

o intestino. Com a iniciativa de Alípio,

nasce a noção de especialidade médi-

ca. Esta inovação foi difundida a todos

O Prof. Alípio Corrêa Netto foi

uma figura humana ímpar. Formado na

antiga Faculdade de Medicina e Cirur-

gia de São Paulo, em 1923, precursora

da atual Faculdade de Medicina, teve

uma carreira acadêmica vertiginosa,

tornando-se catedrático de cirurgia,

ainda muito jovem, em 1935. Como

político, participou, em 1947, da funda-

ção do Partido Socialista Brasileiro, do

qual se tornou deputado estadual, em

1950.

Homem de comportamento muito

discreto, guardava dentro do seu espí-

rito uma forte tendência para partici-

par como cirurgião na assistência aos

feridos em movimentos armados como

foi o da Revolução Constitucionalista

de 1932, e como membro voluntário

da Força Expedicionária Brasileira, em

1942, nos campos de batalha da Itália

durante a II Guerra Mundial.

Foi rigoroso cultor da língua portu-

guesa, costumava dizer “que um povo

demonstra sua identidade na bandeira,

na moeda e na língua”. Como homem

de letras, publicou obras de grande

destaque. Além do famoso livro sobre

“o Aleijadinho”, escreveu em 1968, aos

70 anos de idade, “Um ponto no infi-

nito”, romance de ficção em torno das

fantasias mentais de paciente subme-

tido a transplante do coração. Outro

livro de muita repercussão foi “Um

mestre da cirurgia”, em 1969, em home-

nagem ao seu ídolo, o Prof. João Alves

de Lima a quem devotou muita admi-

ração.

Tinha um grande espírito asso-

ciativo atuando, decisivamente, na

constituição da Associação Paulista de

Medicina, em 1930, e na criação desta

egrégia casa, a Associação Médica

Brasileira, fundada em 26 de janeiro de

1951 da qual foi seu primeiro presidente

eleito, no período de 1951-1955. Gran-

de idealista, participou, também, com

outros companheiros, entre eles o Prof.

Flamínio Fávero da criação do Conse-

lho Regional de Medicina do Estado de

São Paulo, em 15 de dezembro de 1955.

No setor acadêmico, o Prof. Alípio,

juntamente, a Jairo Ramos e outros

colegas liderados por Otávio de Carva-

lho, participou da instalação da Escola

Paulista de Medicina, em 13 de julho de

1933, sendo considerada hoje uma das

melhores escolas médicas do país.

Na Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo, além de

constituir uma forte escola cirúrgica,

persistente até os dias atuais, onde se

destacaram nomes como Euryclides

de Jesus Zerbini, Luiz Edgard Puech

Leão, Victor Spina e tantos outros,

com forte apoio de Benedito Montene-

gro, teve a feliz iniciativa de instituir,

pioneiramente, em 1952, no Hospital

das Clínicas, os grupos para aglutinar

interessados em dedicar-se ao ensi-

no, à pesquisa e à prática cirúrgica

para tratamento de pacientes com as

mesmas afecções, que vieram, poste-

riormente, a ser considerados especia-

listas. Esta inovação foi difundida para

todos os setores da medicina e hoje

constitui as bases desta consagrada

Associação Médica Brasileira.

Henrique Walter Pinotti

Professor Emérito da Faculdade de

medicina da USP

recebe quadro de Alípio C. Neto

AMB

setores da medicina e hoje constitui as

bases desta consagrada AMB, que contém

as 53 especialidades médicas”, disse.

Ao final do evento, José Luiz Gomes

do Amaral entregou a Henrique Pinotti

uma placa, homenageando-o.

“Rendemos mais que justa homena-

gem pelo exemplo de dedicação ao próxi-

mo. O senhor representa bem o que todos

os médicos gostaríamos de ser”, disse a

Pinotti.

O retrato foi pintado em 1980 por

Heidi Haddad, médica obstetra. “Antes

deste quadro, eu havia pintado um

outro, a pedido de meu marido [o

professor doutor Chibly Haddad,

da Escola Paulista de Medicina],

que foi aluno e depois trabalhou

com o professor Alípio. Quando

o professor Pinotti viu o quadro,

pediu-me que pintasse outro para

colocar na Faculdade de Medicina

da USP. As duas pinturas home-

nageiam o professor Alípio pelo

grande médico que foi e expressam

grande admiração por tudo que ele

ensinou”, explicou Heidi.

lípio Corrêa Neto

A

José Luiz G. Amaral (esq.) recebe de Henrique Pinotti o retrato de Alípio Corrêa Neto