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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2009

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entrevista

Deputado

Deputado federal em primeiro mandato,

Cândido Vaccarezza (PT-SP) é médico

ginecologista e obstetra. Atual líder do

PT, além de votar favoravelmente ao

projeto que regulamenta a medicina,

colaborou decisivamente para que

pudesse ser votado pelo plenário no final

do mês de outubro.

Embora milenar a medicina não

tinha regulamentação. O que o

senhor achou da decisão da Câmara

em aprovar o PL 7703/06 que a

regulamenta?

Vaccarezza –

No que diz respeito à

regulamentação há um descompasso

injustificado entre a situação da

Medicina e as demais profissões

de nível superior na saúde. Todas

possuem regulamentação específica,

ao passo que a norma existente sobre

o exercício da Medicina é um decreto

de 1932, completamente anacrônico

ante as exigências atuais da sociedade

brasileira, da profissão médica e da

organização do trabalho em saúde. Há

sete anos o Congresso Nacional debate

esse projeto e o papel do Parlamento

é decidir sobre as questões relevantes

para a sociedade. Penso que a Câmara

dos Deputados agiu corretamente ao

aprová-lo.

Qual a importância para a

sociedade da aprovação do ato

médico ?

Vaccarezza –

A complexidade cres-

cente dos processos de trabalho exige

a delimitação dos campos de atuação

dos profissionais que exercem dife-

rentes ofícios nas diversas áreas do

conhecimento. No caso da saúde, esta-

mos falando de 13 profissões de nível

superior já regulamentadas por lei,

além de várias outras categorias que

exercem suas atividades profissionais

relacionadas ao campo da saúde e que

também lutam ou pela regulamentação

ou pelo seu reconhecimento. Ao definir

as responsabilidades, a área de atuação,

Cândido Vaccarezza

as atividades e os cargos privativos

de médico a regulamentação dá mais

segurança aos usuários dos serviços de

saúde e também aos próprios trabalha-

dores que atuam nesse setor.

O Sr. entende que a mobilização

pela sua aprovação tratou-se de um

movimento corporativista ou de

legítima defesa da categoria?

Vaccarezza –

O objetivo do PL

7703/06 é a definição do exercício da

Medicina. Ele não é o instrumento

adequado para assegurar prerrogativas

específicas a outras categorias

profissionais. Além disso, segundo

o entendimento majoritário das

comissões técnicas que analisaram

a matéria e, sobretudo, diante da

manifestação da Comissão de

Seguridade Social e Família – acolhida

pelo Plenário da Câmara –, o texto

aprovado tanto resguarda os limites

do exercício de outros ofícios ou

profissões da saúde como respeita

os mandamentos constitucionais

que norteiam a regulamentação das

profissões. Da mesma forma que houve

mobilização favorável à aprovação

promovida pelas entidades médicas,

outras categorias se organizaram para

impedir a aprovação do projeto. Esses

movimentos são legítimos e fazem

parte do dia-a-dia do Legislativo e da

Democracia.

Em sua opinião, quais serão os

beneficiados com sua aprovação?

Vaccarezza –

Em primeiro lugar, os

usuários dos serviços. Acredito que

a Câmara dos Deputados pautou a

sua decisão não com base na ação

das corporações, mas tendo em vista

a compatibilização de interesses

específicos das categorias da saúde

com o interesse público. O texto

que retornou ao Senado expressa o

consenso possível para o atendimento

das necessidades objetivas de uma

categoria que é essencial para o

sistema de saúde – a dos médicos. E,

ao mesmo tempo em que privilegiou

os interesses e a segurança dos

usuários dos serviços de saúde,

conseguiu resguardar as competências

específicas das demais profissões que

atuam nesse setor.

A aprovação do Ato Médico pode

ser considerada uma mudança na

atenção à saúde do povo brasileiro?

Vaccarezza –

Objetivamente, a

aprovação do “Ato Médico” não

trará mudanças drásticas e que

serão imediatamente percebidas pela

população. Mas ao definir claramente

questões relativas às responsabilidades

dos médicos e preservar as atribuições

dos diferentes profissionais de saúde,

esse projeto tende a valorizar o trabalho

em equipe. As grandes mudanças na

atenção à saúde do povo brasileiro

tiveram início com a inserção do direito

à saúde na Constituição de 1988 e com a

decisão do povo brasileiro de construir o

SUS. E ainda temos um longo caminho

para efetivar socialmente essa conquista.

Nesse sentido, o fortalecimento do

trabalho multidisciplinar favorece as

mudanças que são necessárias para o

aprimoramento das ações e dos serviços

de saúde públicos e privados, o que trará

benefícios a todos os cidadãos usuários

desses serviços.