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MARÇO/ABRIL 2009

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mensagem do

PRESIDENTE

de dos cuidados com a saúde sem garantir os melho-

res padrões de educação. Aceitar o desvio de função

significa aprovar formalmente um duplo padrão de

atenção: formação completa nos países desenvolvidos

e ampliação das atribuições dos quadros técnicos nas

regiões mais pobres.

Ao teorizar sobre esta prática, a OMS ressalva que

“os países deveriam garantir que o desempenho do

conjunto de habilidades e conhecimentos dos profissio-

nais de saúde possa ser avaliado diante de papéis defi-

nidos, níveis e padrões de competência”. Infelizmente,

as autoridades sanitárias favoráveis à adoção do desvio

de função são, em geral, relutantes em aceitar a defini-

ção de papéis, níveis e padrões de competência. Defini-

los impõe limites qualitativos e transparência para as

práticas de saúde, requisitos essenciais para identificar

responsabilidades e conferir segurança à assistência.

Também em nosso país não são infrequentes as

tentativas da aplicação da política de desvio de função.

Para justificá-la, atribuem-lhe o sucesso de algumas

das políticas de saúde como o programa brasileiro de

combate à Aids. Os resultados atingidos no controle,

entretanto, independem do desvio de função, pois são

decorrentes de pressão efetiva da sociedade por ações

concretas; financiamento de todos os aspectos do cui-

dado médico, incluindo o fornecimento de drogas an-

tirretrovirais; recrutamento e treinamento de profis-

sionais da saúde para cuidar dos pacientes infectados;

adaptação das instalações hospitalares e organização

das equipes de profissionais da saúde em suas respec-

tivas áreas.

Um futuro melhor é possível mesmo para os paí-

ses pobres. Não será alcançado com a transferência de

competência, mas por meio de compartilhamento de

recursos, atenção e cuidados. Somente assim nos será

dado compartilhar melhores resultados.

José Luiz Gomes do Amaral

Presidente da Associação Médica Brasileira

Ofuturoda assistênciamédica –

compartilhar tarefas

Em março, na cidade de Reykjavik, Islândia, tive

a oportunidade de discutir, ao lado de representantes

das associações médicas de diversos países, políticas de

saúde pública, em particular, a proposta sobre desvio

de função (Task Shifiting) da Organização Mundial da

Saúde (OMS). O desvio de função refere-se à transfe-

rência de incumbências específicas de profissionais mais

qualificados na área de saúde para outros com menor ou

nenhuma qualificação.

Esta definição foi proposta pela OMS com a ideia

original de promover a assistência a populações acome-

tidas pelo HIV/Aids em países que enfrentavam falta de

profissionais na área sanitária. Esta política, no entanto,

também passou a ser largamente empregada em regiões

desenvolvidas como Austrália, Estados Unidos, Reino

Unido da Grã Bretanha e Irlanda do Norte.

A equivocada ideologia do desvio de função encerra

o conceito de ampliação, a curto prazo, do conjunto de

habilidades e conhecimentos já existentes de quadros

menos qualificados em

substituição aos mui-

tos anos despendi-

dos no treinamen-

to de médicos e

enfermeiros.

A proposta é

equivocada, pois

não é possível as-

segurar a qualida-