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JAMB - MAR/ABR - 2006
Formação Médica
O médico, espera-se que associe
valores morais à vocação e ao domínio
técnico de sua arte. Daí resultará o pro-
fissional humano, dedicado e competen-
te, que todos buscamos e naquele a quem
entregamos nossa vida e a dos que nos
são caros.
Não poderemos nos furtar de assi-
nalar o fundamental papel da educação
pré-universitária na preparação do
candidato à escola médica e o rigor que
deveria acompanhar sua seleção. Os
assim bem preparados estenderão
sua educação médica ao longo de pelo
menos uma década, os primeiros seis
anos (Sete, em alguns países) nas facul-
dades e os restantes quatro (Cinco ou
seis, na União Européia, América do
Norte, Austrália, Nova Zelândia e outros
países bem-sucedidos) em treinamento
sob supervisão habilitada.
Terá, destarte, após os 30 anos, come-
ço uma longa e profícua vida profissional,
plena na medida da solidez da educação
oferecida nas etapas anteriores. Pois são
a solidez e a extensão da cultura médica
que instrumentam a obrigatória e contí-
nua atualização. De fato, iniciada a forma-
ção universitária, não se cogita interrompê-
la, visto que, privado da vital renovação
do conhecimento científico, ver-se-á o
médico imobilizado tecnicamente, total-
mente incapaz de compatibilizar suas
ações às exigências da ética profissional.
Assim ocorre hoje nos países desen-
volvidos e há muito trabalhamos para que
assim também seja no Brasil. Não nos
furtamos a denunciar a gestão irrespon-
sável da educação e, dentro dos limites
que a estrutura legal do País nos impõe,
temos lutado incessantemente contra a
escandalosa proliferação de escolas
médicas, que hoje alcança o recorde
mundial de 160.
A deterioração do ensino público
fundamental só faz agravar as diferenças
sociais e torna excepcional o ingresso de
seus formados nas universidades sérias.
Essas, em sua maioria públicas, também
se ressentem do abandono e do isolamen-
to a que têm sido relegadas. As possibili-
dades de treinamento pós-universitário em
Programas de Residência Médica de bom
nível são também limitadíssimas.
Se os egressos do ensino público
fundamental não alcançam qualificação
suficiente, oferecem-lhes “cotas” no
lugar da educação consistente. E deixam
multiplicarem-se as vagas no ensino
superior, em lugar do aparelhamento das
instituições existentes.
Estéril em soluções verdadeiras, fértil
em iniciativas populistas e eleitoreiras,
pródiga quando se trata de atender a
indústria do diploma tem sido a gestão
da educação e, particularmente da
educação médica, sobretudo a partir da
década de 90. Apenas entre 2003 e 2005
foram criadas, pelo menos, 26 escolas
médicas. Buscando legitimar este volu-
me de negócios, justificam-nas com os
argumentos vagos “necessidade social”
e “projetos pedagógicos inovadores”.
Somente duas das faculdades recém-
criadas encontram-se em Estados onde
existe real carência de médicos. As res-
tantes surgiram em Estados como Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná
e Santa Catarina, onde há escandaloso
excesso destes profissionais.
Tem-se hoje 310 mil médicos em ati-
vidade e cerca de 12 mil vagas por ano.
Nessas 160 escolas médicas, em que
estariam os recursos humanos e mate-
riais suficientes para trazer resultado
prático aos tais “projetos pedagógicos
inovadores”?
Restringir-se-ão essas propostas a
programas de formação rápida, onde o
autodidatismo na atividade de campo
não-supervisionada substitui a orienta-
ção do preceptor qualificado? Voltaremos
as costas ao progresso que ainda passa
por nós? Afastar-nos-emos irreversivel-
mente dos padrões internacionais da
formação médica, esquecendo os exem-
plos dos países desenvolvidos?
Esperamos, para o bem da saúde do
brasileiro e futuro da medicina no Brasil,
que a reconsideração do tema nos
conduza a propostas que permitam
compatibilizar excelência da formação e
excelência da assistência, buscando
trazer para nossos cidadãos os bene-
fícios do progresso da ciência atual.
José Luiz G. do Amaral
Presidente da Associação Médica Brasileira
Edson de Oliveira Andrade
Presidente do Conselho Federal
de Medicina
e d i t o r i a l
Mar-Abr-7.p65
23/5/2006, 11:46
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