MAIO/JUNHO 2011
5
entrevista
Claudio Lottenberg
Foto: Divulgação
Ex- secretário municipal de Saúde de São Paulo na gestão José Serra,
mestre e doutor em Oftalmologia, Claudio Luiz Lottenberg, desde
dezembro de 2001, preside o Hospital Israelita Albert Einstein.
Ele concedeu a seguinte entrevista ao Jamb.
Qual o modelo de gestão do corpo
clínico adotado pelo Hospital?
R
– Nós adotamos o modelo proposto
pelo ISO, que indica a mediação, análise
e avanço da qualidade da instituição por
meio de preceitos, como benefício mútuo
nas relações com fornecedores e colabo-
radores, melhoria contínua, abordagem
por processos e abordagem sistêmica para
gestão. Neste contexto, o médico não é
meramente um cliente do Hospital, mas
sim um membro, ou melhor o líder do
time assistencial. De maneira a sustentar
a integridade na relação e ser consistente
com os princípios e valores institucionais,
os valoriza-se o desempenho em termos de
qualidade e boas práticas no atendimento
médico (adesão a protocolos, documenta-
ção clínica, educação médica continuada,
produção em ensino e pesquisa, compor-
tamento etc.). Porém, a despeito de toda
a consistência técnica e cuidado com os
detalhes, o pilar de sustentação do modelo
é a confiança mútua entre médicos e insti-
tuição. Essa confiança tem sido construída
através de uma relação de respeito e valori-
zação do médico e da autonomia na relação
médico-paciente.
Quais os principais desafios desse
gerenciamento ?
R
– Esse tipo de gerenciamento não
só ambiciona a manutenção da qualidade
mas também sua evolução. Esse constan-
te progresso no sistema de qualidade e em
seus processos internos exige a formulação
de ferramentas e um significante dina-
mismo nas esferas intelectual, científica e
tecnológica. Além disso, os benefícios que
a instituição oferece em reconhecimento
pelo bomdesempenho dão ênfase a geração
e atualização do conhecimento e ao apoio à
boa prática médica.
Como a instituição mantém a quali-
dade do corpo clínico?
R
– A qualidade é a característica prio-
ritária da Sociedade Beneficente Israelita
Brasileira Albert Einstein. Para sua manu-
tenção, desenvolvemos o Sistema Einstein
da Qualidade (SEQ) que é um conjunto de
princípios, métodos e recursos utilizados
para o contínuo aprimoramento. O SEQ
temcomoprincípios norteadores a assistên-
cia focada no paciente e provê-la no tempo
adequado, eficiência, eqüidade, efetividade,
e segurança.
Um dos braços do SEQ é o
Conselho Médico Executivo (CME), que é
composto por 3 representantes do Hospital
e 3 representantes do corpo clínico. Estes
são eleitos por voto direto e, portanto são
representantes legítimos do corpo clínico.
O CME delibera sobre as questões de inter-
face entre hospital e médico na assistência
e é responsável por garantir a qualificação
dosmédicos que ingressamemnosso corpo
clínico. O CME se reporta à Diretoria do
Hospital através do Comitê de Qualidade
e Assistência. O Comitê da Qualidade e o
CME são responsáveis pelo Programa de
Relacionamento Corpo Clínico, que inclui
a avaliação de desempenho e a política de
benefícios, conforme o que já descrevi.
O que o Einstein faz para “cuidar da
saúde de quem cuida”?
R
– O HIAE adota um modelo de
assistência que favorece a recuperação
dos pacientes e a satisfação dos colabora-
dores em todos os níveis: físico, mental,
emocional, social e espiritual. Esse mode-
lo parte da filosofia “Planetree”, na qual os
processos podem ser melhores realizados
através do fortalecimento dos vínculos
não só dos pacientes, mas também com
os colaboradores. Partindo dessa filosofia,
podemos citar ações como: academia, aulas
de yoga, imunização contra gripe, hepati-
te B, mamografia para as funcionárias no
exame periódico, programa anti-tabagsmo,
programa de assistência oncológica para
não só para os colaboradores, mas também
para seus familiares. Nos orgulha, particu-
larmente, o programa de prevenção e trata-
mento do Câncer para nossos funcioná-
rios. Para os médicos, além de facilitar sua
assistência quando precisam do Hospital,
incentivamos e facilitamos sua participação
em nossa revisão continuada de saúde e no
nosso programa de tratamento do tabagis-
mo. Neste programa, realizado em parce-
ria com a Associação Médica Brasileira, os
médicos recebem acompanhamento e o
tratamento gratuitamente. OHospital ofere-
ce uma academia exclusiva para médicos.
O Hospital desenvolve projetos de
Responsabilidade Social?
R
– Temos estabelecido diferentes
parcerias com a Secretaria Municipal de
Saúde de São Paulo, por meio da gestão
compartilhada em Unidades Básicas de
Saúde e Assistências Médicas Ambula-
toriais, almejando a melhoria do Sistema
Único de Saúde na região sul da cidade
de São Paulo. No hospital Municipal Dr.
Moysés Deutsch, contratamos profissio-
nais, acompanhamos sua metodologia no
trabalho, o capacitamos e também ofere-
cemos suporte técnico. Também não pode-
mos nos esquecer do Programa Einstein
na Comunidade de Paraisópolis (PECP),
que tem o intuito de promover a melhoria
da qualidade de vida à população local por
meioda assistência integral à saúde e educa-
ção. As atividades no PECP são agrupadas
emdois serviços principais - oAmbulatório
Médico e o Centro de Promoção e Atenção
à Saúde.
Além dos médicos contratados,
participam voluntariamente vários médi-
cos autônomos do corpo clínico, nas ativi-
dades do PECP e também em discussões
clínicas e na atualização e educação médi-
ca continuada de nossos médicos e staff
assistencial no Hospital Moyses Deutsch. É
importante lembrar também que há várias
participações voluntárias de especialistas
no atendimento de complicações de nossos
pacientes do programa de transplantes.
OEinstein envioumédicos para auxi-
liar as vítimas do terremoto no Haiti.
Vocês têm projetos para atendimento em
situações de catástrofe?
R
– Sim. Possuímos um “Plano de
Catástrofe”. Abrange todas as vertentes de
nossa estrutura hospitalar, como intuito de
viabilizar o atendimento de muitos pacien-
tes concomitantemente. O projeto no Haiti
foi exitoso e gratificante a todos os envolvi-
dos emsua viabilização. Da alta direção, aos
nossos médicos e profissionais que lá esta-
vam, levando atendimento e solidariedade
aos haitianos e que, em minha opinião,
são os que merecem a maioria dos crédi-
tos e participaram diretamente na ação. O
projeto ainda não foi finalizado, na verda-
de, pois ainda estamos provendo apoio
para as vítimas que necessitam de reabili-
tação. Além das dimensões assistenciais e
de responsabilidade social este projeto nos
orgulha por também envolver o ensino e
pesquisa. Nosso time também documen-
tou a situação da população, o tratamento e
os seus resultados, gerando depois publica-
ções científicas, ou seja, conhecimento vital
para que no futuro estejamos mais bem
preparados para prevenir, mitigar e tratar
dos efeitos dessas situações.