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MAIO/JUNHO 2011

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José Luiz Gomes do Amaral

Presidente da Associação Médica Brasileira

Seja qual for o campo do conhecimento abrangido, seja qual for o ramo de

atividade eleito pelo aluno, ensinar representa compromisso e responsabilida-

des. Em qualquer área tais considerações se aplicam, porém em nenhuma terão

maior relevância que na saúde e, em particular, na Medicina.

Antes o mestre, seus pacientes e discípulo bastavam-se. Informações segu-

ras eram encontradas em poucos livros. O aprendizado fluía da observação,

da experimentação, do exemplo e do compartilhamento do raciocínio clínico.

Não menos importante são hoje e, certamente o serão amanhã, a informa-

ção escrita, professores, pacientes e alunos. Sem deixar a atenção individual em

dimensões inimagináveis, entretanto, segmentam-se e multiplicam-se os atores

e os objetos de estudo ou intervenção.

Tem-se assim pela frente conteúdo vastíssimo e tão complexo que não se

pode atrever a definir-lhe as prioridades. Ainda mais quando não se pode no

futuro vislumbrar as surpresas que nos são reservadas.

O rápido envelhecimento das populações nos faz supor prevalência de

doenças crônicas e degenerativas, porém sem a resolução dos problemas atuais.

Não se poderá ignorar, todavia, que a acelerada mobilidade cria oportunidades

exponenciais de contatos e disseminação de enfermidades contagiosas. Além

disso, a história se passa em um horizonte em que as mudanças climáticas e o

esgotamento das atuais matrizes energéticas tornam tudo possível.

Assistimos, sobretudo nas últimas décadas, revolução radical nas ciências

e na tecnologia, possibilitando que informação e mobilidade ultrapassassem

a fronteira do imaginável. Hoje, de um lado, dispomos de poderosos recursos

para diagnóstico e tratamento; de outro, a globalização faz convergir para o

infinito as expectativas de cura. Nesse ambiente de possibilidades e esperanças,

a concreta finitude dos recursos e as muitas desigualdades sociais mantêm um

fosso inexpugnável que isola milhões de seres humanos. São esses, nas regiões

remotas e também nas proximidades, apartados dos benefícios do progresso.

Como preservar eticamente os que viverão uma realidade que contraria o

princípio hipocrático de tudo a todos oferecer para aliviar-lhes o sofrimento?

Como vencer as diferenças na formação dos que chegam a nós? Ultrapassar tais

desníveis já seria utópico, como é integrar tantas matérias de expressão entre si

e com a clínica, visto que sem esta, a nada ou a muito pouco serviriam.

Aqueles que hoje ingressam na escola médica, terão em cerca de dez anos

acesso ao pleno exercício da prática clínica. Parece bastante, mas tudo conspi-

ra para tornar fugaz um curso que pareceria à primeira vista, da graduação à

obrigatória especialização, demasiado longo. De outra parte, é preciso preparar

em breve década o médico para esse amanhã quando tão pouco se sabe do dia

de sua iniciação na profissão. São menos prováveis ainda as conjecturas sobre

os 40 anos que dedicará a ela.

Não obstante tais desafios, há quem os enfrente, renovados no sucesso de

seus discípulos. Sabedores de que, nas mãos por eles guiadas, evolui a Medicina,

Arte, Ciência e Ética.

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