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MAIO/JUNHO 2011

entrevista

Anibal Cruz Senzano

Foto: Divulgação

Cirurgião geral e ex-presidente do Colégio Médico de Cochabamba.

Nessa entrevista explica porque a situação do Colégio é preocupante, as

dificuldades atuais para o exercício da medicina e o futuro da atividade

na Bolívia.

Quando foi criado e quais as atri-

buições do Colégio Médico da Bolí-

via?

R

– O Colégio Médico da Bolívia

foi fundado na década de 50 com a

finalidade de congregar os profissio-

nais. Começou com nome de Sindica-

to Médico e na década de 70 mudou

para a nomenclatura atual. Trabalha-

mos durante 20 anos para conseguir

o reconhecimento profissional pela

Constituição e pelas leis bolivia-

nas. Em 2005, foi aprovada a Lei do

Exercício Profissional Médico (lei

no. 3131 de 8 de agosto de 2005) que

regulamenta a profissão e reconhece

o Colégio Médico da Bolívia como

organização científica e gremial dos

médicos bolivianos. A instituição tem

como principal finalidade a defesa

dos direitos do médico e da saúde da

população. A lei reconheceu o Colégio

como uma entidade que tem a capaci-

dade de supervisionar, em conjunto

ao Ministério da Saúde, as políticas

sanitárias do país. Ao mesmo tempo,

foi facultado a supervisão do exer-

cício legal da profissão; o poder de

certificar as especialidades médicas

por meio das Sociedades e também

de conceder título de especialista. Foi

permitido ao Colégio, junto ao Minis-

tério, fazer concursos públicos para

o ingresso dos médicos no sistema

de saúde. A instituição também tem

um Tribunal de Ética e Deontologia,

que por meio dos estatutos e regula-

mentos, tem valor punitivo. Há ainda

a divisão do Comitê Científico que

supervisiona as diferentes atividades

da área.

Qual a situação dos médicos na

Bolívia atualmente? O que está acon-

tecendo com o Colégio Médico?

R

– Desde 2006, quando Evo Mora-

les assumiu a presidência, o Colégio

Médico posicionou-se como orientador

da atividade científico e encaminha-

dor das prioridades de saúde na Bolí-

via. Quando o governo propôs atenção

gratuita e trouxe os médicos cubanos,

o Colégio não se opôs, mas exigiu do

governo a certificação dos profissionais

oriundos de Cuba. O pedido não foi

bem recebido e as medidas foram radi-

calizadas. O Colégio apoiou o governo

para implementação do sistema univer-

sal de saúde, pois é um direito que pode

melhorar a saúde dos bolivianos. Os

médicos não se opuseram, mas pediram

que seja dado o orçamento necessário,

pois os investimentos governamentais

totalizam cerca de 9,9% do Produto

Interno Bruto. O salário dos médicos

bolivianos não tem relação com outras

profissões. Há um dispositivo na lei que

impede remuneração salarial maior do

que a do presidente Evo Morales, que

ganha 15 mil bolivianos (

equivalente

a US$ 2 mil

). A remuneração oferecida

aos médicos não é suficiente para atua-

lização científica e os gastos cotidianos.

O que ganham mal dá para a sobrevi-

vência. Além disso, a nova Constituição

está fazendo com que o Colégio Médi-

co fique cada vez mais estrangulado.

Foi facultado ao Colégio a supervisão

do exercício profissional, por isso os

médicos pagavam uma taxa para serem

registrados. Há também uma mensa-

lidade. Para aqueles que não tinham

emprego, o valor era US$1,5 e para

os empregados, o desconto ocorria

direto na folha de pagamento e equiva-

lia a um quarto do salário, sendo que o

mínimo era de US$ 10 e o máximo de

US$ 20. A forma de retenção era auto-

rizada pelo Ministério do Trabalho e

pelos médicos, porém, a partir desse

ano, a ministra da Saúde, Nila Here-

dia, determinou que o Estado não irá

mais fazer os repasses, portanto, dimi-

nuiu o orçamento do Colégio. Foi deci-

dido que, a partir de agora, o governo

passará a fazer o registro. Não só a lei

3131 foi revisada, mas foi retirada a

função dos outros colégios profissio-

nais como advogados e dentistas. Com

todas essas revisões, o Colégio Médico

ficou sem função em virtude da políti-

ca governamental

Quais são os planos para reverter

essa situação?

R

– Estamos fazendo uma campa-

nha de conscientização da verdadeira

finalidade do Colégio médico, que não

é político-partidário. É uma instituição

científica gremial regida por lei, zela pela

qualidade científica e também supervi-

siona o exercício da profissão médica. Se

não há uma instituição com as caracte-

rísticas do Colégio Médico, a sociedade

fica exposta ao exercício irregular da

Medicina sem alguém que supervisione

a capacidade e a idoneidade do profissio-

nal e de atendimento hospitalar, defenda

os direitos dos pacientes e dos médicos.

O único supervisor será o Estado e a

Medicina se converterá em instrumento

político. Fizemos um manifesto lido na

Associação Médica Mundial que refor-

ça o posicionamento do Colégio de que

saúde é um direito da população, por

isso não pode ser usada como instru-

mento político.