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JAMB

JUNHO/JULHO DE 2002

6

om o tema Novas Escolas

de Medicina: necessidade

social ou interesse econô-

mico?, o 6º Fórum Nacional sobre

Ensino Médico, que ocorreu no

último dia do Congresso de Política

Médica, finalizou os trabalhos rea-

lizados em cinco capitais brasileiras

- Curitiba, Belo Horizonte, Belém,

Brasília e Salvador. O 2º vice-

presidente da AMB e coordenador

dos Fóruns, Ronaldo da Rocha

Loures Bueno, apresentou o docu-

mento final, resumindo as propostas

apresentadas em todos os eventos.

“Estas propostas serão enca-

minhadas ao deputado federal Rafael

Guerra (PSDB/MG), relator do pro-

jeto de lei já em trâmite no Con-

gresso Nacional que regulamenta a

abertura de novas escolas na área da

saúde”, garantiu.

O projeto apresentado altera a

Lei nº 9394, de 20 de dezembro de

1996, que estabelece as diretrizes

e bases da educação nacional, e

condiciona a criação de cursos de

graduação na área da saúde por

Universidades e demais insti-

tuições de ensino superior deve ser

submetida em caráter terminativo

à manifestação do Conselho

Nacional de Saúde - CNS. Atual-

mente, o parecer do CNS para a

abertura de novos cursos é mera-

Escolas Médicas:

novas propostas

mente consultivo. “Esta é uma

estratégica política que visa criar

um dispositivo de controle para os

cursos de medicina. A síntese

temática das propostas dos Fóruns

realizados pelo país é de suma

importância, e assim como a carta

de propostas dos médicos, também

será enviada aos candidatos

envolvidos no processo eleitoral

deste ano”, completou Loures.

Durante o encontro, foram apre-

sentadas palestras referentes ao

assunto. Entre os participantes

estavam Álvaro Nagib Atallah,

professor da Universidade Federal do

Estado de São Paulo; Roberto de

Queiroz Padilha, coordenador do

Núcleo de Educação Permanente da

Faculdade de Medicina de Marília;

Carlos Alberto Justo da Silva, mem-

bro da Comissão de Avaliação de

Escolas Médicas e representante da

AssociaçãoCatarinense deMedicina;

Jorge Alberto Langbeck, integrante

do departamento científico da So-

ciedade Médica Cirúrgica do Pará;

Tânia Torres Rosa, diretora da Facul-

dade deMedicina daUniversidade de

Brasília; Milton de Arruda Martins,

professor titular de ClínicaMédica da

Faculdade de Medicina da USP;

Roberto D’Ávila, corregedor do

CFM e secretário-geral da Cinaem.

Todos foram unânimes em afirmar

Resumo das Propostas - Novas Escolas Médicas:

Necessidade ou Oportunismo?

1. Abertura de novas escolas e ampliação do nº de vagas

• A discussão sobre a proliferação de escolas médicas

e novas vagas deve ser inserida no âmbito das

políticas de saúde, visando buscar um consenso sobre

a quantidade e o perfil do médico que o país

necessita;

• A sociedade não precisa de mais médicos e sim de

médicos com formação de qualidade e

adequadamente distribuídos no país, através de uma

política de incentivo e melhores condições de

atendimento;

• Necessidade de definição de parâmetros para avaliar

necessidade social como pré-requisito para a abertura

de novas escolas de medicina;

• Modificação da legislação, restabelecendo o parecer

do CNS referente à necessidade social;

• Qualquer tentativa de abertura de novos cursos de

medicina, sem a caracterização da necessidade

social, é inoportuna e contrária ao interesse público,

visto que tem reflexos na qualidade da assistência à

saúde da população;

• Proposição de uma portaria interministerial (MEC

e MS) para o estabelecimento de instrumento de

criação de cursos de medicina, contemplando

basicamente a necessidade social e os requisitos

necessários indispensáveis, com a participação das

entidades médicas e representação estudantil da

área médica;

• Atuação de forma consensual junto às instâncias

representativas da sociedade, envolvendo, por

exemplo, o Conselho Estadual de Educação, a

exemplo de Santa Catarina;

• A política de abertura de novos cursos de medicina

deve ser associada às de residência médica,

pós-graduação e educação continuada;

• O aumento da oferta de vagas deve ocorrer somente

em cursos que apresentarem

• condições plenas de funcionamento, seguindo os

mesmos critérios observados para a criação de novos

cursos de medicina;

• As entidades médicas devem intensificar o diálogo

com a sociedade, visando esclarecer sobre:

a) papel do ensino médico de qualidade da prática

médica;

b) as conseqüências da proliferação de novas escolas

médicas, sem o preenchimento dos requisitos

necessários, para o atendimento da saúde da

população;

c) a falta de médicos em regiões interioranas e/ou

serviços de saúde está relacionada com a má

distribuição dos médicos e com a falta de recursos

para a saúde;

d) se a sociedade está exposta a maus profissionais, é

porque a maioria das escolas de medicina não está

em condições de formar bons profissionais;

e) há uma grande diferença entre a quantidade e a

qualidade dos profissionais, demonstrando que

estão preocupadas em assegurar condições para

que cada aluno consiga a competência plena para

exercer sua profissão.

f) as condições do mercado de trabalho que esperam

o médico recém-formado;

• em caso de abertura de curso de medicina, deve ser

vinculada às necessidades do mercado de trabalho

e acompanhada de uma política que garanta a infra-

estrutura necessária e corpo docente qualificado,

tendo em vista formar turmas pequenas de alunos

inseridos na realidade regional;

• efetivo cumprimento dos instrumentos legais de

avaliação da Secretaria de Educação Superior

(SESU/MEC), com a participação das entidades

médicas, permitindo, inclusive, intervir nas escolas

que obtiverem condições insuficientes (CI);

• criação de novas escolas médicas só com o

preenchimento das condições plenas e critério Muito

Bom, segundo avaliação SESU-MEC;

• aumento da oferta de vagas só em escolas médicas

com condições de oferta de ensino Muito Bom,

segundo avaliação SESU-MEC;

• considerando que em algumas localidades a

representação das entidades médicas não está

devidamente contemplada nos Conselhos de Saúde

Municipal e Estadual, estas entidades deveriam ser

convocadas a emitir parecer sobre a criação de novos

cursos de medicina e abertura de novas vagas nos

já existentes;

• como poder de pressão, poderia ser usado o recurso

da certificação de acreditação às escolas, bem como

o estabelecimento de exame de qualificação

profissional, como condição obrigatória para o

exercício da medicina;

2. Ensino médico

• no que diz respeito à avaliação das condições

objetivas de funcionamento dos cursos de medicina

existentes e/ou expansão de vagas, há necessidade

urgente de se iniciar um movimento reivindicatório

junto ao Ministério da Educação, visando incluir a

participação das entidades médicas na Comissão de

Especialistas no Ensino Médico (CEEM/MEC);

• participação da Associação Médica Brasileira,

Conselho Federal de Medicina e Federação Nacional

dos Médicos–Confederação Médica Brasileira como

representantes natos da sociedade organizada nas

atividades dos CEEM-MEC;

• tendo em vista a reestruturação do ensino médico,

a primeira providência seria as escolas existentes,

sejam públicas ou privadas, produzirem um relatório

das carências institucionais;

• utilização de instrumento de avaliação contínua das

escolas, vinculado às entidades médicas;

• implantação de projeto político-pedagógico dinâmico

e inovador, não mais centrado no professor, que dê

autonomia ao aluno para desenvolver-se plenamente

quanto aos aspectos cognitivos, de atitudes e de

habilidades, com senso de responsabilidade social e

valorização da cidadania;

• estabelecimento de critérios disciplinando o exercício

do profissional de ensino médico;

• o perfil do corpo docente não pode se restringir à

formação acadêmica, mas também englobar a

formação didático-pedagógica e a educação

continuada;

• acompanhamento da política de expansão de vagas

em graduação de forma associada com a de

residência médica e de pós-graduação;

• observância rigorosa da legislação em vigor no que

diz respeito a transferência de alunos de escolas

estrangeiras;

• avaliação dos alunos deve ser permanente, ao longo

do curso, como forma de se poder corrigir as

distorções verificadas;

• criação de dispositivo para que as entidades médicas,

diante de avaliação de escola que não tenha

observado os requisitos SESU-MEC, acionem o

Ministério Público pedindo o seu fechamento, a bem

do interesse público;

• O envolvimento dos estudantes de medicina na

mobilização das entidades médicas contra a abertura

indiscriminada de novos cursos de medicina;

3. Mobilização política

• mobilização das entidades médicas junto às bancadas

federais dos estados,

visando a alteração da Lei

nº 9.394 LDB, dando força para os conselhos

nacional e estaduais de saúde opinarem, em caráter

terminativo, no que diz respeito à necessidade social;

• mobilização das entidades médicas junto às

Assembléias Legislativas, pela aprovação de leis

estaduais que regulamentem a criação, autorização

de funcionamento e abertura de novas vagas,

avaliação e reconhecimento dos cursos de graduação

na área médica, no âmbito dos sistemas estaduais

de educação;

• pressão política não deve ser somente das entidades

médicas, mas também dos alunos que são os

principais envolvidos.

que a abertura indiscriminada de

escolas médicas é inaceitável, e que

estamos no momento de avaliação

das já existentes e de uma mudan-

ça curricular, pois qualidade é

indispensável.

“É preciso trabalharmos no

sentido de controlar a expansão das

faculdades de medicina sem ava-

liação social do curso e de proibir a

abertura de novas escolas que não

possuam um complexo hospitalar e

ambulatorial com corpo clínico

qualificado”, disse Tânia Rosa.

Para Carlos Alberto, o fator que

tem norteado a abertura de novas

escolas é o predomínio do interesse

meramente econômico e não social.

“O que move é a vaidade e o dinhei-

ro”, afirmou. Segundo ele, o projeto

pedagógico deve conter em sua

proposta um projeto de residência

médica. “Não podemos separar

graduação de pós-graduação. É

preciso que haja uma continuidade.

Médicos sem qualificação são

prejudiciais ao atendimento e à

população”, completou.

Segundo Milton de Arruda

Martins, “o apoio das entidades é

bastante positivo, pois é apenas

desta forma que será possível uma

transformação tão essencial no país,

e, assim, atender as necessidades

sociais”, finalizou.

O 2º Vice-

presidente da

AMB, Ronaldo

Loures,

coordenou os

trabalhos dos

Fóruns Regionais

“Novas Escolas

de Medicina:

necessidade ou

oportunismo”

De 1996 a 2000 foram

aprovados 14 novos cursos de

medicina no país. Em 2001 e 2002

foram aprovados mais 12. O

número de escolas públicas

permaneceu quase o mesmo, mas

os cursos em escolas particulares

cresceu significamente. Em 96,

havia 35 cursos, saltando para 58

em 2002, ou seja, nos últimos seis

anos foram criados 23 novos

cursos. Estes são os últimos dados

divulgados pelo Instituto Nacional

de Estudos e Pesquisas Edu-

cacionais do Ministério da

Educação (Inep/MEC), que con-

tabiliza 112 escolas de medicina no

país.

Proliferação dos Cursos

Curso/Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Federal

33

33

33

33

34

34

36

Estadual

15

14

15

15

15

15

15

Municipal

3

3

4

4

3

3

3

Particular

35

38

40

45

48

50

58

Total

86

88

92

97

100

102

112

Osmar Bustos