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JAMB

JANEIRO/FEVEREIRO DE 2001

7

m levantamento do Ministério da Saú-

de identificou novos números da saú-

de no país: 303 municípios brasileiros

apresentam mortalidade infantil acima de 80 por

1000 nascidos vivos e outros 237 com alta

prevalência de malária. O estudo abrangeu ain-

da uma pesquisa sobre médicos residentes nos

municípios. Do total, 27% não têm médico (93

municípios), 19% têm até um médico (65 muni-

cípios) e 15% têm dois médicos (53 municípios).

Os demais 38% têm mais de dois médicos.

Esses dados levaram o Ministério da Saúde

a implementar o Programa de Interiorização

do Trabalho da Saúde, instituindo, entre ou-

tros, o Programa Saúde da Família (PSF) e o

Plano de Interiorização de médicos e de enfer-

meiros, visando transferir médicos e enfermei-

ros para trabalho em áreas que apresentam

atendimento precário ou mesmo inexistente.

O decreto com a criação do programa já foi

publicado no Diário Oficial (mais detalhes no

boxe ao lado) e irá privilegiar postos de traba-

lho nas cidades localizadas nas regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste, destacadas pela es-

cassez de profissionais. O Ministério informa

ainda que os municípios aonde os profissio-

nais forem destacados para o trabalho serão

os responsáveis pelo fornecimento de mora-

dia e alimentação. Com isso, o Ministério pre-

tende que todos os municípios brasileiros pas-

sem a contar com atendimento médico.

Grupo de trabalho

Desde o ano passado um grupo de traba-

lho, formado por representantes da Secreta-

ria de Políticas de Saúde, Secretaria de Assis-

tência à Saúde, AMB, CFM, CFE, Associação

Brasileira de Enfermagem, ABEM, Direção Exe-

cutiva Nacional dos Estudantes de Medicina,

Conselho Nacional de Secretários Municipais

de Saúde, Conselho Nacional de Secretários

de Saúde, Comunidade Ativa, Organização

Pan-Americana da Saúde e Ministério da Edu-

cação vinha elaborando o plano, buscando

alternativas que possibilitassem a interio-

rização e a distribuição de médicos e enfer-

meiros em municípios de comprovada carên-

cia destes profissionais.

O primeiro passo foi realizar um levantamen-

to da oferta em órgãos formadores de recur-

sos humanos nas áreas de medicina e enfer-

magem de todo o País. A segunda etapa con-

sistiu em estabelecer critérios e definir priori-

dades na alocação de médicos e enfermeiros

levando em consideração a situação epide-

miológica dos municípios.

O grupo também se preocupou em propor

formas de arti-

culação das

Secretarias Es-

taduais e Muni-

cipais de Saú-

de e Ministério

da Saúde com

os órgãos for-

madores de re-

cursos huma-

nos para pro-

mover a locali-

zação de médi-

cos e enfer-

meiros

nos

municípios ca-

rentes destes

profissionais.

Objetivos

O Programa

de Interiori-

zação vai se es-

tabelecer por 10 anos, a partir de sua efetiva

implantação. Com o tempo, os postos do PITS

serão substituídos gradativamente por equipes

de Saúde da Família, com profissionais assenta-

dos e contratados pelos municípios. Para tanto,

o Ministério da Saúde vai revisar os incentivos

necessários para que os municípios organizem

a atenção básica de saúde, constituam suas

equipes de saúde da família e contratem os pro-

fissionais necessários.

O Ministério da Saúde estabelecerá, ainda,

mecanismos de acompanhamento, controle e

avaliação dos estados e municípios beneficia-

dos com o Plano de Interiorização, com o obje-

tivo de suspender os incentivos concedidos aos

municípios que não tenham demonstrado o em-

penho necessário em organizar o seu sistema

de atenção básica de saúde e constituído suas

próprias equipes de saúde da família.

O Programa, segundo o Ministério, será com-

plementar e não pode ser transformado em um

modelo alternativo e substitutivo de prestação

de serviços básicos de atenção à saúde, deso-

brigando estados e municípios de suas respon-

sabilidades legais e constitucionais de prover

esses serviços à população.

Sintonia com o PSF

A iniciativa irá apoiar a expansão do Progra-

ma de Saúde da Família. A intenção do Ministé-

rio é que os profissionais voluntários trabalhem

em parceria com as equipes do Programa Saú-

de de Família. O PSF, criado em 1994, promove

a organização dos serviços de atenção básica

nos sistemas municipais de saúde.

Atualmente são 10.905 equipes responsá-

veis pela assistência a mais de 37 milhões de

pessoas em 3.124 mil municípios brasileiros.

Cada equipe atende uma média de mil famí-

lias e é formada por, no mínimo, um médico,

um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem

e de quatro a seis agentes comunitários de

saúde. O Programa de Agentes Comunitários

de Saúde (PACS) existe desde 1991 e pode

constituir uma etapa inicial para formação e

atuação da equipe Saúde da Família. Os

147.633 agentes em atuação no país acom-

panham, durante visitas domiciliares, as con-

dições de saúde e de vida de quase 85 mi-

lhões de brasileiros em 4,6 mil municípios.

O decreto com a criação do Programa, publicado no início

de fevereiro no Diário Oficial, prevê aos selecionados remu-

neração de até R$ 4.500,00 mensais para os médicos e até R$

3.150,00 aos enfermeiros, dependendo do município, e con-

trato pelo período de um ano. As inscrições poderão ser fei-

tas somente pela Internet, através do site do Ministério da

Saúde

(www.saude.gov.br)

que contará com um link específi-

co apresentando informações detalhadas sobre o assunto.

Os voluntários serão submetidos a uma seleção que incluirá

avaliação de currículo e entrevista. Recém-formados, ou forma-

dos no máximo há cinco anos, terão preferência. Os seleciona-

dos passarão por um treinamento especial, com duração de 80

horas, em pólos capacitativos do Programa Saúde da Família,

sempre na capital do estado onde o profissional será fixado.

O Ministério da Saúde dispõe de um orçamento inicial de

R$ 34 milhões para o desenvolvimento do Programa. Nesse

orçamento estão incluídas as verbas destinadas às Prefeitu-

ras para garantia das unidades de saúde e acomodação dos

profissionais, já que serão os municípios os responsáveis pela

moradia e alimentação dos mesmos.

“Nossa intenção é que no início de abril os profissionais já

estejam trabalhando nos municípios”, explica Cláudio Duarte,

secretário de política de Saúde do Ministério da Saúde. Embo-

ra parte do programa seja baseado na aceitação por parte do

município, ele está otimista em relação à adesão.

“Temos conhecimento de que muitos municípios enfren-

tam dificuldades em atrair determinados profissionais. Por

isso, acreditamos que os mais carentes irão integrar o pro-

grama”, completa.

O secretário destacou a participação das entidades médi-

cas, como AMB e CFM, no grupo de trabalho para a elaboração

do programa. Os vice-presidentes da região Centro, Neri João

Bottin, e região Centro-Oeste, Samir Dahas Bittar, representa-

ram a entidade nos trabalhos. Agora, a partir da sua efetiva

implantação, as entidades serão convidadas a participar de uma

Comissão Nacional, ainda a ser criada, que será responsável

pelo acompanhamento do programa. “Além dessa importante

participação, a mobilização das entidades médicas será funda-

mental para o sucesso do programa”, conclui Cláudio Duarte.

“Entendemos que esse programa é um dos caminhos para a

melhor distribuição de médicos no País. Por isso, merece não só

o apoio como todo o tipo de empenho das entidades médicas

para que seu objetivo seja alcançado”, afirma o presidente da

AMB, Eleuses Paiva. “Essa iniciativa mostra o esforço do governo

em levar assistência aos municípios carentes e também re-

conhece a importância do médico nesse processo. Esperamos

que o Programa contemple a efetivação do médico em outras

regiões, abrindo novas perspectivas de trabalho para a classe”,

completa Edson de Oliveira Andrade, presidente do CFM.

ENTIDADES APÓIAM

Programa Saúde da Família: garantia de assistência à população

Entidades médicas e Ministério da

Saúde: atenção básica à saúde

Márcio Arruda

Incentivo à Interiorização