M
eleiro
SAS
et
al
.
102
R
ev
A
ssoc
M
ed
B
ras
2015; 61(2):102-107
DIRETRIZES EM FOCO
Tratamento da lesão isolada do ligamento cruzado posterior
treatment
of
isolated
lesions
of
the
posterior
cruciate
ligament
Autoria:
Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia
Participantes:
Meleiro SAS, Mendes VTA, Kaleka CC, Cury RPL
Conflito de interesse:
nenhum conflito de interesse declarado
http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.61.02.102O Projeto Diretrizes, iniciativa da Associação Médica Brasileira, tem por objetivo conciliar informações da área médica, a fim de pa-
dronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico.
As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida,
diante da realidade e do estado clínico de cada paciente.
D
escrição
do método
de
coleta
de
evidência
Para a elaboração desta diretriz foram consultadas as ba-
ses eletrônicas primárias Medline (1966 a 2012) via Pub-
Med e Lilacs. A busca de evidências partiu de cenários clí-
nicos reais, e utilizou os descritores MeSH: “Humans”,
“Adult”, “Knee”, “Posterior Cruciate Ligament”, “Posterior
Cruciate Ligament/surgery*” “Posterior Cruciate Liga-
ment/pathology*”, “Posterior Cruciate Ligament/inju-
ries*”, “Arthroscopic Surgeries”, “Allograft”, ”Rehabilita-
tion”, “Treatment Outcome”, “Outcome Assessment”,
“Prospective Studies”. Os artigos foram selecionados após
avaliação crítica da força de evidência científica por espe-
cialistas da especialidade ortopédica relacionada, sendo
utilizadas para as recomendações as publicações de maior
força. As recomendações foram elaboradas a partir de dis-
cussão com o grupo elaborador. Toda a diretriz foi revi-
sada por grupo independente especializado em diretrizes
clínicas baseadas em evidências.
G
rau
de
recomendação
e
força
de
evidência
A.
Estudos experimentais ou observacionais de melhor
consistência.
B.
Estudos experimentais ou observacionais de menor
consistência.
C.
Relatos de casos (estudos não controlados).
D.
Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em
consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.
O
bjetivo
Esta diretriz tem como objetivo orientar o tratamento da
lesão isolada do ligamento cruzado posterior no pacien-
te adulto.
I
ntrodução
O ligamento cruzado posterior (LCP) é o principal restri-
tor da translação posterior da tíbia e atua como estabiliza-
dor secundário da varização, da valgização e da rotação la-
teral e medial desse osso (
D
).
1-4
É dividido funcionalmente
em dois feixes, a banda anterolateral (AL) e a banda poste-
romedial (PM), nomeadas de acordo com a direção toma-
da pelo feixe no trajeto entre a tíbia e o fêmur e sua inser-
ção nesse osso.
1-5
Com o joelho em flexão, o feixe AL
encontra-se tenso e o PM, frouxo; já com o joelho em ex-
tensão, as tensões se invertem (
D
).
1-5
A lesão do LCP é bemmenos frequente do que as ou-
tras lesões ligamentares do joelho (
D
).
1-4,6
A incidência
dessas lesões na população geral encontra-se em torno
de 3%, aumentando drasticamente na população susce-
tível a traumas, chegando a 37% (
D
),
1-3,6
principalmente
em acidentes automobilísticos e de alta energia, onde se
observa grande prevalência de lesões associadas (
D
).
1,6
Na
população atleta, também se observa maior incidência
das lesões do LCP do que na população em geral, mas
essa diferença é variável quanto ao tipo de atividade pra-
ticada (
D
)
1,6
(
B
).
7
As lesões isoladas do LCP são menos co-
muns do que as lesões associadas (
D
)
1,3
(
B
).
7
O principal mecanismo de lesão em geral do LCP é
decorrente de trauma direto na tíbia em direção antero-
posterior com o joelho em flexão (
D
).
1,3,5
Na prática es-
portiva, o principal mecanismo de lesão é a hiperflexão
dos joelhos, decorrente de quedas com os joelhos fletidos,
por exemplo (
D
).
5
As lesões do LCP são usualmente classificadas em três
diferentes graus de acordo com a magnitude da translação
posterior da tíbia em relação ao fêmur: grau I – 1 a 5 mm;
grau II – 5 a 10 mm; e grau III – maior que 10 mm (
D
).
3,5
O tratamento da lesão isolada do LCP representa um
dilema ao ortopedista. Apesar de estarem bem descritos
protocolos de tratamento das lesões do ligamento cruza-
do anterior e dos ligamentos colaterais do joelho, não há
consenso quanto ao tratamento da lesão isolada do LCP,
além de haver pouca informação baseada em evidência