JULHO/AGOSTO 2009
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mensagem do
PRESIDENTE
Carta ao presidente da República
Excelentíssimo senhor presi-
dente Luíz Inácio Lula da Silva,
Surpreendeu-nos sua mani-
festação “médico gosta mesmo
de trabalhar na capital” proferi-
da durante a solenidade de aber-
tura da 12ª Marcha dos Prefei-
tos, que aconteceu em Brasília,
no dia 15 de julho. Nesse even-
to, vossa excelência defendeu a
regulamentação do orçamento
da saúde, não o projeto do Sena-
do (PLS-121/07, de Tião Viana)
mas o oriundo da Camâra dos
Deputados (PLC-306/08), aquele
que inclui um novo imposto, a
Contribuição Social da Saúde –
CSS. (mais detalhes na pág.23 )
No calor da discussão, não
raro surgem argumentos incon-
sistentes, talvez fruto da vontade
de justificar posições difíceis ou
da falta de informação. Não há
dúvida que os médicos concen-
tram-se nas grandes cidades e
nas regiões mais desenvolvidas
do país. No Brasil, somos mais
de 340 mil em atividade, número
mais que necessário, caso houves-
se real intenção de contratação
pelo nosso mal financiado SUS.
Acotovelam-se esses profis-
sionais no Sul e Sudeste do
Brasil bem como nas capitais.
Isso porque ali ainda resta a
eles oportunidades de traba-
lho e alguma infraestrutura
para diagnóstico e tratamento.
Nessas regiões mais favore-
cidas, a relação médico/habi-
tante ultrapassa a encontrada
na América do Norte e na
Comunidade Europeia. Por
outro lado, nas regiões remo-
tas e/ou mais pobres, a única
possibilidade de trabalho é o
mal aparelhado SUS. Mesmo
assim em contratos precá-
rios ou na mais absoluta
informalidade.
Presidente, ao contrário do
que acontece com o Judiciário,
os médicos não têm carreira
de Estado. Vossa excelência
sabe os limites dos orçamentos
das prefeituras das pequenas
cidades (lei de responsabilida-
de fiscal) e que elas não têm
como arcar com o custo de uma
assistência decente. Tentam os
gestores de saúde atrair médi-
cos com propostas mentiro-
sas, jamais cumpridas. Muda
o prefeito, muda o secretário,
mudam os ventos políticos
locais e os desavisados médicos
que se interiorizaram, engros-
sam a fila dos retirantes.
Mesmo nas grandes cidades,
o SUS pouco ou nada oferece
aos médicos brasileiros. Anali-
se, vossa excelência, as alterna-
tivas que nos são apresentadas
e reconsidere suas posições.
Escute-nos antes de manifestar-
se sobre o que gostamos ou não.
Entenda que escolhemos medi-
cina não em busca de sucesso
econômico ou de prestígio polí-
tico, mas por vocação verdadei-
ra. O que realmente gostamos é
poder atender ao próximo; os
milhões de cidadãos brasileiros
em total desamparo.
José Luiz Gomes do Amaral
Presidente da Associação
Médica Brasileira