Médico formado pela Pontifícia Universidade Católica de
Campinas (PUC-Campinas), é presidente da Sociedade
Brasileira de Radioterapia (SBR). Fez residência noHospital
das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), é
ex-fellow
doMemorial Sloan Kettering Cancer Center emNova York,
doutor emMedicina pela USP e coordenador dos Serviços de
Radioterapia doHospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Robson Ferrigno
Entrevista
AMB
Qual é o balanço que pode ser feito sobre o triênio em
que você esteve à frente da Sociedade?
Ela foi marcada, como toda gestão, por vitórias e derro-
tas. Algumas demandas serão, provavelmente, conquis-
tadas na próxima gestão, uma vez que já estão devida-
mente encaminhadas. Na área de Atenção Oncológica
do Sistema Único de Saúde (SUS), a decepção é total.
Não avançamos em nada do que propusemos. Há si-
nais de que alguns projetos encaminhados ao Ministé-
rio da Saúde sejam analisados; porém, até agora, nada
avançou. Continuamos com o manual do SUS cheio de
incongruências e desatualizado: a forma de precifica-
ção dos procedimentos é ultrapassada e inadequada; não
houve incorporação de novas tecnologias para benefício
dos pacientes; e o valor de remuneração está abaixo do
necessário para a viabilização econômica dos serviços
de radioterapia. Na área de saúde suplementar, avança-
mos de forma parcial, porém importante, incorporando
dois novos e necessários procedimentos no rol da Agên-
cia Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Isso, graças
a um trabalho bem realizado pela equipe de elaborado-
res das Diretrizes de Utilização que montamos. A princi-
pal conquista, sem dúvida, iniciada na gestão anterior, foi
a obtenção de um assento na Associação Médica Brasi-
leira (AMB). Já éramos especialidade própria, e essa con-
quista nos abriu caminho para que pudéssemos partici-
par diretamente das ações políticas da AMB.
Quais são as dificuldades encontradas pela Radiotera-
pia no Brasil?
A alta demanda reprimida para tratamento com radio-
terapia. Faltam equipamentos e, segundo o Tribunal de
Contas da União (TCU), apenas 65% dos pacientes que
necessitam dessa forma de tratamento conseguem aces-
so a um serviço de radioterapia. Embora haja um gran-
de projeto de expansão do governo federal, com a aqui-
sição de 80 novos equipamentos, essa iniciativa é de
longo prazo. Medidas mais urgentes, como contratação
de serviços privados, não estão sendo tomadas e, em vá-
rias regiões do país, há filas de espera enormes e impos-
sibilidade de acesso. Há um sucateamento dos aparelhos,
principalmente nos serviços que atendem ao SUS. Isso
ocorreu pelo baixo valor pago pelo tratamento com ra-
dioterapia nas últimas décadas, impedindo que os servi-
ços investissem em novos aparelhos e novas tecnologias.
Com isso, muitos tratamentos realizados são inadequa-
dos e, por consequência, os pacientes possuem mais re-
caídas e complicações do que a média da literatura. As-
sim, eles acabam voltando para o sistema de saúde para
serem tratados da recaída ou das complicações do tra-
tamento. O valor referente aos procedimentos de radio-
terapia pago tanto pelo SUS como pelos planos de saúde
é relativamente baixo. Isso gera consequências negativas,
como sucateamento do parque de equipamentos, invia-
bilidade econômica dos serviços e utilização de tecnolo-
gia ultrapassada.
Como você avalia a participação no movimento asso-
ciativo de sua especialidade?
O movimento é bastante proativo e positivo. Temos um
potencial enorme de união e conquistas, e estou vendo
que, cada vez mais, os profissionais de nossa especialida-
de entendem que precisamos trabalhar mais alinhados às
nossas necessidades.
Em sua opinião, do que o radioterapeuta mais precisa
atualmente no exercício da medicina no país?
Boas condições de trabalho e tecnologia apropriada, boa
formação e plano de carreira.
Os valores dos principais procedimentos pagos atual-
mente são satisfatórios para a categoria?
Infelizmente, não. Tanto na saúde suplementar como no
SUS, os valores são inadequados e incompatíveis com os
altos custos de manutenção dos serviços. Em algumas
regiões, os valores pagos por alguns planos de saúde são
adequados graças à união dos serviços, que souberam
mostrar a necessidade de pagamento compatível com os
custos operacionais dos procedimentos. Mas, infelizmen-
te, essa situação é exceção, e não regra.
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setembro/outubro
2014 •
JAMB
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