SETEMBRO/OUTUBRO 2012
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entrevista
JoséOtávioC.Auler Jr.
Foto: Divulgação/FMUSP
Professor Titular da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP), Departamento de Cirurgia - Disciplina de
Anestesiologia, atualmente é Diretor em exercício da Faculdade de
Medicina da USP e Presidente do Conselho Deliberativo do Hospital
das Clínicas da FMUSP. No HCFMUSP, exerceu também a função de
Diretor Clínico (2007 a 2010). Ele concedeu a seguinte entrevista ao
Jamb.
SETE BRO/OUTUBRO 2012
A FMUSP completa 100 anos.
Haverá alguma atividade especial para
comemoração do seu centenário?
José Otávio Costa Auler Jr.
– O
Centenário vem sendo comemora-
do com uma extensa programação. A
abertura dessas comemorações acon-
teceu no dia 15 de novembro de 2011,
com uma solenidade na Sala São Paulo,
com concerto da Orquestra Sinfônica
da USP. A programação, que se estende
até abril de 2013 – quando a aula inau-
gural completará 100 anos -, é compos-
ta por simpósios, palestras, inaugura-
ções, exposições, cursos, congressos,
publicações e eventos.
Qual a importância da FMUSP no
cenário do ensino superior brasileiro?
José Otávio Costa Auler Jr.
– A
FMUSP foi a primeira Faculdade de
Medicina do Estado de São Paulo e
introduziu no Brasil o modelo de ensi-
no médico baseado na existência de
hospitais universitários vinculados às
escolas médicas, e onde são realizadas
as aulas práticas associadas a atividades
de pesquisa e assistência. Foi com base
nesse novo modelo que o Governo do
Estado de S. Paulo construiu o Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina
da USP, primeiro hospital universitário
do país. Além do ensino de excelência
tanto na graduação quanto na pós, a
Faculdade coordena projetos nos três
níveis de atenção à saúde (primário,
secundário e terciário) e lidera as publi-
cações nacionais da área da saúde. A
instituição, atualmente, está desenvol-
vendonovos sistemas para amoderniza-
ção de seus cursos e métodos de ensino/
aprendizagem. No ranking elaborado
pela Universidade de Xangai, atualmen-
te a FMUSP está entre as 100 melhores
faculdades de medicina do mundo. Os
investimentos contínuos em ensino,
pesquisa e extensão, associados a uma
maior internacionalização, buscam
inserir a FMUSP entre as 50 melhores.
A FMUSP, no último vestibular,
foi uma das carreiras mais concor-
ridas (51,1 candidatos/vaga) e maior
nota de corte (73 em 89 questões). A
que se deve isso?
JoséOtávioCostaAuler Jr.
–Deve-
se à tradição e ao prestígio da institui-
ção, cujo hospital-escola é muito bem
estruturado e permite ao estudante
ter uma formação completa no ciclo
base (Instituto de Ciências Biomédicas,
Instituto de Biociências e Instituto de
Química), na área clínica, nos estágios
hospitalares e na residência, o maior e
mais completo do país.
Como formar um bommédico?
José Otávio Costa Auler Jr.
– Um
bom médico deve ter conhecimento
técnico e humanístico bastante amplo
e ter uma forte exposição ao conteúdo
teórico-prático.
Quais as diferenças entre o médi-
co formado hoje e o da década de 50?
José Otávio Costa Auler Jr.
– A
realidade social se modificou e a expec-
tativa de vida variou. Hoje já se conhe-
ce a origem de muitas doenças e houve
avanço no diagnóstico e no tratamento
delas. A medicina está mais eficiente,
com recursos terapêuticos mais moder-
nos e equipamentos de última geração.
Como avanço da tecnologia e do conhe-
cimento, as chances de tratamento
aumentaram fortemente da década de
50 para cá.
O Cremesp tornou obrigatório,
para fins de registro, o exame de
avaliação a recém-formados. O que
pensa a respeito?
José Otávio Costa Auler Jr.
– Não
sou contra a atividade do Cremesp,
mas acho que os processos avaliatórios
deveriam ser originados nas faculda-
des de medicina. Esta avaliação espe-
cífica é fruto de uma preocupação do
Cremesp com o ensino bastante precá-
rio de algumas faculdades de medicina.
O problema está na origem da forma-
ção do médico. Existem faculdades de
medicina que não oferecem a formação
adequada aos seus alunos e não fazem
avaliações globais.
Qual a sua opinião sobre o Provab
e o Revalida?
José Otávio Costa Auler Jr.
– O
Provab é um programa idealizado com
o intuito de fixar o médico no interior.
Da maneira como foi idealizado, é
inadequado porque está enviando para
o interior médicos recém-formados,
muitas vezes com formação precária e
sem supervisão. Cria-se umbônus para
entrar nos programas de residência,
fato que fere a moralidade e a isenção
dos concursos públicos. O governo
deveria fiscalizar melhor a formação
do médico e criar um programa de
carreira para médicos com especiali-
zação se fixarem no interior. Em rela-
ção ao Revalida, é importante para
que haja um controle na autorização
de registro nos conselhos de medicina
para certificados emitidos no exterior,
independentemente de o profissio-
nal ser estrangeiro ou brasileiro. Este
exame de conhecimento é um meio de
comprovar a qualificação para aten-
der a população e garantir serviços
de padrão internacional dos médi-
cos. Com a revalidação automática, a
preocupação sempre esteve relaciona-
da ao nível de formação e qualidade
dos profissionais que ingressavam no
mercado de trabalho brasileiro com
formação insuficiente.