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2014; 60(5):395-397
395
Editorial
Quinze minutos
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B
ernardo
, J
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J
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., A
ntônio
S
alomão
, E
dmund
B
aracat
http://dx.doi.org/10.1590/1806-9282.60.05.001
D
escrever
a
importância
da
obesidade
,
nos
dias
atuais
,
e
a
falta
de
estratégias
de
ma
-
nejo
apropriadas
pode
levar
quinze
minu
-
tos
de
leitura
,
mas
o
problema
deve
envol
-
ver
um
tempo
bem
maior
de
sua
atenção
e
de
orientações
para
o
paciente
.
Índices epidêmicos e crescentes de obesidade, emmuitas
partes do mundo, estão levando ao aumento do sofrimen-
to e estresse econômico. Apesar de décadas de investiga-
ção sobre as causas da pandemia de obesidade, que pare-
ce não estar perto de solução, ainda não há um claro
entendimento da natureza desse problema, o que restrin-
ge a criatividade e sufoca o pensamento expansivo, que
poderia avançar no campo da prevenção e do tratamen-
to, bem como das complicações da obesidade. A tomada
de decisão compartilhada e o redirecionamento de polí-
ticas poderiam remover as barreiras que nos impedem
progredir na solução de urgente tema de saúde pública
do início deste século
1,2
.
O sobrepeso e a obesidade refletem ganho de excesso
de gordura corporal, bem como visceral, que é resultado
dos efeitos cumulativos, inicialmente imperceptíveis, do
comer no dia a dia e de hora em hora, sem atividade físi-
ca adequada, criando um superávit de calorias consumi-
das em relação ao gasto. O excesso de ganho de peso, não
intencional e gradual, acompanha-se da dificuldade de re-
versão do quadro, podendo tornar-se permanente. Se to-
dos os pacientes atualmente obesos fossem tratados de
forma eficaz, ainda assim o crescimento do número de
pessoas obesas seria contínuo se não houvesse esforços
preventivos adequados. Muitas intervenções multifaceta-
das, para a prevenção da obesidade, procuram influenciar
no equilíbrio de calorias, concentrando-se na energia con-
sumida, ou na energia gasta. Enquanto a obesidade é uma
prioridade a partir de uma perspectiva epidemiológica e
de saúde pública, revela-se ainda mais importante por in-
fluenciar outros aspectos da sociedade. Custos substan-
ciais diretos e indiretos incluem a discriminação, a priva-
ção econômica, a perda de produtividade e a incapacidade.
Logo, os estados e comunidades acabam desviando recur-
sos para a prevenção e o tratamento. O sistema de saúde
do país está sobrecarregado com as comorbidades da obe-
sidade, como o diabetes tipo 2, a hipertensão, as doenças
cardiovasculares, a osteoartrite e o câncer. Estima-se que
o ônus anual da obesidade é quase 10% de todos os gas-
tos médicos
3
.
Existem programas de tomada de decisão comparti-
lhada que oferecemmodalidades de tratamento cirúrgico
para perda de peso, como:
bypass
gástrico emY-Roux, banda
gástrica ajustável por laparoscopia e gastrectomia vertical
laparoscópica. Os pacientes participam de seminários, em
que são educados nas diferenças de desfechos, de segui-
mento e de complicações de cada procedimento. As prin-
cipais informações do seminário incluem: 1. Maior perda
de peso no Y-Roux e gastrectomia vertical em comparação
com a banda gástrica; 2. A banda gástrica necessita o maior
número de visitas pós-operatórias (mensal no 1
o
ano); 3. O
Y-Roux e a gastrectomia vertical têmmaior índice de com-
plicações com risco à vida do que a banda gástrica (fístu-
la); 4. A banda gástrica tem maior número de complica-
ções tardias, relativas ao dispositivo (erosão, migração); 5.
O Y-Roux tem o maior índice de remissão do diabetes; e 6.
Há falta de dados sobre cinco anos de seguimento de per-
da de peso com a gastrectomia vertical. Cinquenta e oito
por cento dos pacientes escolheram «perda de peso» como
o resultado mais importante, e 65% escolheram «fístula»
como a mais preocupante complicação. A análise do sub-
grupo de pacientes com diabetes revelou que 58% escolhe-
ram «cura da diabetes» como o resultado mais importan-
te. Dezenove por cento dos pacientes não tinham certeza
sobre qual procedimento queriam, ou mudaram de deci-
são após consulta com o cirurgião
3
.
A
pesar
de
a
escolha
por
cirurgia
bariátri
-
ca
não
ser
fácil
,
a
decisão
compartilhada
,
no manejo
da
obesidade
,
deve
abordar
o
tra
-
tamento
clínico
,
cirúrgico
,
a
prevenção
e
necessita mais
do
que
quinze minutos
.
Na tomada de decisão, os pacientes podem optar por se-
rem mais passivos, pois não sabem como se sentirão ao
serem mais ativos nas decisões. Ou, podem ter medo do
abandono, ou de serem rotulados de “difíceis” se eles pa-
recem desafiar a autoridade do médico. Eles podem ter
dificuldade de tolerar a dúvida, satisfazendo-se com as
primeiras soluções, inferiores às ideais, mas disponíveis.
Por sua vez, os médicos podem presumir que o paciente
tomou a decisão com base em informações corretas e su-
posições adequadas, especialmente se a opinião do pro-