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NOVEMBRO/DEZEMBRO 2010

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MENSAGEM DO

PRESIDENTE

José Luiz Gomes do Amaral

Presidente da Associação Médica Brasileira

judicialização da

medicina

Levantamento do Conselho Nacional de Justiça mostrou que em 20 dos

91 tribunais brasileiros existem mais de 112 mil processos sobre demandas

de saúde. Esses dados evidenciam a falta de credibilidade dos sistemas de

saúde brasileiro. No âmbito do sistema público, a insistência de que tudo se

oferece contrasta com o pouco que se tem e a reiterada resistência em encarar

a falta de recursos. As indisfarçáveis tentativas de distorcer a realidade por

meio da manipulação da informação e interferência na prática clínica criam

inconsistências óbvias.

Por outro lado, os planos de saúde, enredados em processo concorrencial

predatório, vendem igualmente o que não têm. Impossibilitados de entregar

o prometido, voltam-se contra os prestadores de serviços, pressionando-os

a aderir a padrões de atenção incompatíveis com a ciência e a ética. Vinte e

dois anos de prática de SUS e onze anos de regulamentação (tímida e parcial)

da saúde suplementar não foram suficientes para corrigir vícios e construir

um plano de ações que façam, de fato, boas ideias saírem do papel.

Há cerca de uma década a Associação Médica Brasileira trabalha pela

adoção integral da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos

Médicos (CBHPM). Revisada regularmente pelas Sociedades de Especiali-

dade, a CBHPM lista os procedimentos médicos adequados no uso clínico.

Para beneficiar os pacientes atendidos, considera-se a eficácia e a seguran-

ça, eliminando alternativas obsoletas e aquelas ainda em experimentação.

Paralela a essa iniciativa, o Projeto Diretrizes, também desenvolvido pela

AMB, busca definir, com base nas melhores evidências científicas, quando e

como realizar os procedimentos médicos listados na CBHPM. Até o momen-

to foram publicadas 320 diretrizes que apoiam a decisão clínica, sem ofender

a individualização dos cuidados e a independência, valores inalienáveis à

prática médica, que podem ser livremente consultadas no site

www.proje-

todiretrizes.org.br

Enquanto guiados pela lógica da contenção de recursos, gestores políti-

cos e empresários da saúde suplementar têm rejeitado sistematicamente a

transparência e a evidência científica. Vê-se, portanto, a Justiça obrigada a

intervir em prol dos interesses da sociedade. Opõe-se paradoxalmente os que

deveriam a ela antecipar-se.

A AMB coloca-se à disposição do Poder Judiciário em defesa da qualida-

de da atenção à saúde.