JORNAL DA
ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA AMB
- NOV/DEZ -
2008
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Entrevista - António Vaz Carneiro
ter essa informação para decidir
como investirá. São questões que
podem ser baseadas na melhor ci-
ência possível.
Como a medicina chegou nes-
se estágio?
Isso provém de três fatores:
investiga-se tudo e muito mais
do que se fazia há 30 anos: do-
enças, doentes, processos, prog-
nósticos, diagnósticos, terapêu-
ticas, sistemas de saúde; a quali-
dade média da investigação é
muito melhor e, em terceiro lu-
gar, por meio dos computado-
res, é possível identificar onde
estão essas coisas. Eis a razão
porque somos gestores da infor-
mação. São publicados aproxi-
madamente 4 milhões de artigos
científicos por ano e, se estiver
bem treinado com o computador,
sei como encontrar essa informa-
ção. A razão pela qual é necessá-
rio olhar tudo isso de uma manei-
ra diferente e selecionar no meio
de toda essa informação aquela
que é verdadeiramente boa.
É um desdobramento da so-
ciedade da informação...
É a sociedade da informação
técnica em uma área tão impor-
tante como é a medicina. Nós sa-
bemos que uma grande parte dos
estudos não tem qualidade. Es-
ses estudos não só são inúteis
como podem ser prejudiciais. O
que precisamos saber? Se os estu-
dos são bem feitos e quais os re-
sultados. É aí que está o segredo.
Como é o seu novo projeto
sobre referência?
Temos novos projetos e esse é um
deles. O governo nos pediu e tem a
ver com informaçãomédica que deve
existir nas intranets do sistema de saú-
de português, organizado em um
hospital que tem em volta centros de
atenção primária, todos ligados em
rede e conectados com os outros nú-
cleos. Estamos trabalhando na infor-
mação necessária para que o médico
de atenção primária, que precise en-
viar o seu doente para uma consulta
hospitalar, mande para o médico tri-
ador a instrução necessária para clas-
sificar o doente em três graus: muito
urgente (atendimento imediato), ur-
gente (para ser visto em até três dias)
ou regular (que pode ser atendido da-
qui um mês). Qual é a informação
clínica que deve estar emcada umdos
exames para que o médico do hospi-
tal possa tratar o doente? Elencamos
cinco especialidades que são respon-
sáveis pela maior parte dos pedidos
de referência e dentro delas teríamos
umconjunto de doenças. É sobre isso
que iremos trabalhar. Quando o
doente tem, por exemplo, catarata
e o médico de atenção primária o
encaminha ao oftalmologista, qual
é a informação necessária? Eletro-
cardiograma? Raio-X de tórax? É
isso que estamos padronizando.
Essa uniformização de critérios, que
permite fazer com que o ato de re-
ferência seja clínico e não burocrá-
tico, diminui o risco dos doentes e
permite melhorar a qualidade mé-
dia do atendimento, pois uniformi-
za os procedimentos .
Há quanto tempo esse proje-
to está em operação?
Começamos agora. Estamos na
fase inicial. Não sei a data precisa,
mas em 2009 deve estar montado.
É possível aplicar essa inicia-
t iva em um paí s tão grande
quanto o Brasil?
Sugeri aos colegas da AMB que
não façam no Brasil todo. Come-
cem por um Estado, por exemplo
São Paulo. Se uma parte do Estado
de São Paulo tem todo seu sistema
de saúde informatizado, comece por
aí. Faça localmente. Se funcionar
bem, é possível estender.
Em Portugal, o sistema de
saúde é todo informatizado?
Nesse momento, temos 100%
de informatização.