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JORNAL DA
ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA AMB
- NOV/DEZ -
2008
Entrevista - António Vaz Carneiro
O professor António Vaz Carnei-
ro é especialista em Medicina Inter-
na pelo Mount Sinai Hospital and
Medical School, Nova York e em
Nefrologia pela University of Cali-
fórnia, San Francisco, EUA. Atual-
mente, é professor da Faculdade de
Medicina de Lisboa. Eleito Fellow
of American College of Physitians,
exerce os cargos de diretor do Cen-
tro de Estudos de Medicina Basea-
da na Evidência da Faculdade de
Medicina de Lisboa; consultor cien-
tífico para a área de diretrizes da As-
sociaçãoMédica Brasileira e doCon-
selho Federal de Medicina. Recente-
mente, ele foi convidado pelo gover-
no português para desenvolver e
implantar novos projetos no siste-
ma de saúde de seu país. Ele fala
sobre este e outros assuntos ao Jamb.
Onde o senhor se formou?
Fiz o curso médico na Facul-
dade de Medicina de Lisboa no
fim dos anos 70, passei a maior
parte da década de 1980 nos Es-
tados Unidos, onde fiz a residên-
cia em Clínica Médica durante
três anos no Hospital Monte Si-
nai, em Nova York. Depois, fiz
residência em nefrologia na Uni-
versidade de Stanford, na Cali-
fórnia. Voltei para Portugal e,
em 1999, fui contatado pela
AMB para fazer uma consulto-
ria científica na área das Diretri-
zes. Venho para o Brasil periodi-
camente, acompanhei todo o
projeto. Como faço parte das
duas maiores organizações inter-
nacionais de Diretrizes, o Guide-
line International Network e a
Rede Ibero-americana de Guias,
que inclui todos os países que
falam português e espanhol, te-
nho mantido uma colaboração
muito próxima, em termos cien-
tíficos, com a AMB e com o Con-
selho Federal de Medicina.
Como começou esse projeto
de medicina baseada em evi-
dência?
Eu fundei o Centro de Estu-
dos de Medicina Baseada em Evi-
dência, na Faculdade de Medici-
na de Lisboa, há quase dez anos.
O Centro é uma unidade estru-
tural que tem 34 pessoas atuan-
do em três departamentos: ensi-
no, que cuida desde a pré-gradu-
ação, graduação, educação médi-
ca continuada até mestrado e
doutorado; investigação, onde
investigamos doenças cardiovas-
culares, degenerativas do sistema
nervoso central e também sobre
educação médica; por fim, o ter-
ceiro departamento é o de con-
sultoria científica, que presta ser-
viços para o governo, indústria
farmacêutica, hospitais públicos
e privados, outros países e grupos
médicos. O que fazemos no Cen-
tro não é auditoria, certificações,
nem tomamos conta de doentes,
embora a maior parte das pesso-
as ali tenha carreira clínica. Pro-
duzimos informações de alta qua-
lidade que podem ser direciona-
das a ministros, diretores de em-
presas de saúde ou a um grupo
de médicos que precisa de uma
informação específica. Pesquisa-
mos além do Medline e do Pub-
Med. O que fazemos é selecionar
as melhores, sintetizar e apresen-
tar o que é conhecido, o momen-
to daquele assunto. No fundo,
somos gestores do conhecimento,
que é uma coisa necessária na saú-
de hoje em dia. O médico precisa
saber como age um determinado
antibiótico, o hospital precisa sa-
ber para comprar as quantidades
certas e o governo também deve
Foto: Arquivo pessoal