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MARÇO/ABRIL 2013
Presidente da amB critica
descaso com a saúde
na contramão do que comprova recente pesquisa
realizada pelo conselho Federal de medicina (mais
detalhes nas págs. 24 e 25), o ministério da saúde
insiste na falácia de que faltam médicos no país. Para
isso apresentou, no dia 27 de fevereiro, em Brasília,
um programa visando aumentar o número de profis-
sionais no Brasil.
Para atingir seu objetivo de equacionar 2,7 médi-
cos/1000 habitantes, número aleatório, baseado em
estatísticas do Reino Unido, o governo pretende utili-
zar várias estratégias. a primeira passa pela abertura de
51 novas escolas de medicina, algumas delas em áreas
carentes, pretendendo com isso que os médicos ixem
residência no local de formação. a meta é atingir 6 mil
novas vagas/ano, que somadas às quase 16 mil já existen-
tes completariam 22 mil.
Outro “mecanismo” para incrementar o número de
médicos está voltado aos proissionais formados no exte-
rior, facilitando para isso o processo de revalidação dos
diplomas, especialmente os cubanos e bolivianos. além
disso, há ainda a previsão da abertura do mercado nacio-
nal para atuação de médicos portugueses e espanhóis –
cerca de 6.600 postos - , que teriam uma licença especial
por dois anos para realizarem suas funções em nosso país.
Fortaleza
em discurso, em Fortaleza, durante as comemo-
rações do centenário da associação médica cearense,
o presidente da amB, Florentino cardoso fez críticas
ao descaso com que o governo brasileiro vem tratando
atualmente a saúde pública nacional.
“antes de querer importar médicos, o governo precisa
ter políticas de estado para melhor distribuir os médicos
existentes no País. O Brasil dispõe de um contingente de
proissionais capaz de proporcionar uma melhor assis-
tência à saúde, não necessitando, portanto, do suporte de
médicos de cuba, Bolívia, Portugal ou espanha confor-
me proposta governamental”, disse.
na avaliação do presidente da amB, há má distribui-
ção de médicos no Brasil, “o problema é que eles estão
concentrados nas grandes cidades e nas capitais, porque
não existem condições de trabalho na maioria dos muni-
cípios brasileiros. Os governos, em suas diversas instân-
cias, precisam informar a quantidade de médicos que
o Brasil necessita, em que áreas do conhecimento eles
precisariam atuar, onde, sob quais condições de trabalho
e com que salários”, completou.
Florentino cardoso airmou ainda que as escolas de
medicina também preocupam a amB, porque “muitos
proissionais que estão saindo dessas instituições não
têm condição de atender a população de maneira digna”.
segundo ele, antes de autorizar a abertura de novas
faculdades, é preciso corrigir as já existentes, porque os
médicos não estão sendo formados de maneira adequa-
da. “nossa luta é para formar médicos com qualidade,
enquanto o governo quer de qualquer maneira e em núme-
ro excessivo”, airmou, acrescentando, que a maioria das
escolas abertas recentemente não possui hospital-escola.
“Já temos 198 escolas de medicina. somos o segundo país
com o maior número de escolas de medicina no mundo, só
perdemos pra Índia, mas nós temos cerca de 200 milhões
de habitantes e a Índia mais de 1,3 bilhão”, observou.
Artigo
em recente artigo, “O sistema público de saúde”, publi-
cado em 8 de março, na seção
Espaço Aberto
, do jornal O
estado de s. Paulo, o presidente da amB voltou a criticar
o sistema público de saúde. Para ele o governo tenta impu-
tar à falta de médicos a deterioração do sistema.
“O governo precisa ser claro com a população e
dizer, por exemplo, quanto o sUs paga por uma consul-
ta de um pediatra, de um ginecologista (menos de R$
3). O povo precisa saber, ainda, quanto o sUs paga por
uma cirurgia de adenoide-amígdala (R$ 183,41), para
retirar o apêndice (R$ 161,03) - esses valores incluem
cirurgião, assistente e anestesiologista -, para uma
curetagem uterina (R$ 67,03), para uma ultrassono-
grafia abdominal (R$ 24,20), para um raio X do tórax
(R$ 14,32)”, destaca em sua análise.
Cardoso durante o evento em Fortaleza
Foto: Divulgação AMC
SAúDE PúbLIcA