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MARÇO/ABRIL 2012

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ENTREVISTA

eduardovaz

Foto: Divulgação SBP

Formado pela Universidade Federal Fluminense, título de especialista em

pediatria,

Eduardo da Silva Vaz

tem tradição no movimento associativo.

Foi presidente da Associação Médica do Estado do Rio de Janeiro, diretor

da AMB e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), onde assumiu a

presidência, em 2010, para ummandato de três anos. A “defesa proissional”

sempre esteve no centro de suas preocupações e é o assunto da entrevista

que concedeu ao

JAMB

.

Qual a prioridade da SBP para

2012?

Eduardo Vaz

– Todas as crianças

precisam ter direito ao acompanha-

mento ambulatorial de puericultura.

Hoje, no brasil, isso não ocorre. em

2006 encomendamos uma pesquisa

ao Instituto datafolha, com mães de

crianças de até 10 anos e o resultado

apontou que cerca de um terço tem

o hábito de ir ao médico somente em

casos de doença ou emergência. Infe-

lizmente nada indica que isso mudou.

No entanto, são fartas as evidências

cientíicas sobre a importância da

prevenção, bem como sobre as doen-

ças crônicas não transmissíveis, que

cada vez mais acometem também os

adultos e poderiam ser evitadas na

infância. a sbP elaborou, em parceria

com a então senadora e hoje deputada

estadual Patrícia saboya, dois projetos

de lei sobre puericultura já aprova-

dos pelo senado e que tramitam na

Câmara dos deputados. o agora PL

nº 6687/2009 trata do sistema Público

e o PL 8048/2010 se refere à medici-

na privada. ambos deinem práticas

preventivas nos cuidados com a saúde

de crianças e adolescentes, com a

regularidade do atendimento médico

conforme a faixa etária e os compo-

nentes necessários à promoção do

crescimento e do desenvolvimento.

sabemos que hoje a assistência pelo

sUs não é normatizada, enquanto no

sistema privado ainda lutamos para

que as consultas não sejam limitadas

àquelas para tratamento de doen-

ças e com intervalo de no mínimo

30 dias. a inclusão do atendimen-

to ambulatorial de Puericultura,

com porte 3b, na CbHPm, foi muito

importante. agora é preciso que faça

parte também do Rol da aNs e que o

Congresso Nacional consagre de vez a

puericultura, bem como a importan-

te mudança de lógica, que valoriza a

prevenção. além disso, estamos deci-

didos a, juntamente à amb e à oab,

trazer para a saúde os recursos neces-

sários ao inanciamento do sUs.

O que o sr. planeja nesse sentido?

Eduardo Vaz

– estamos convi-

dando os pediatras à participação na

campanha, à coleta de assinaturas

para viabilizar o projeto de iniciati-

va popular que propõe investimento

de 10% da receita bruta corrente da

União na saúde pública. Precisamos

conversar com nossos pacientes e suas

famílias, mostrar a todos que a regu-

lamentação da emenda 29 não ocor-

reu como deveria. Não é possível que

a 6ª economia do mundo não reverta

os avanços econômicos em benefício

da população. Não é admissível que

convivamos com uma mortalidade

infantil de 20/1000 nascidos vivos.

Nossos vizinhos o Chile e a argen-

tina já conseguiram atingir taxas de

um dígito (5 e 7 óbitos por mil nasci-

mentos respectivamente). Precisamos

avançar muito mais na sobrevivência

e na qualidade de vida das crianças!

A SBP tem criticado também

o fato do Brasil ser o único país da

América do Sul cujo programa de

residência em pediatria é feito em

dois anos. Como está isso?

Eduardo Vaz

– a pediatria mudou

muito nos últimos tempos e os conhe-

cimentos necessários ao bom proissio-

nal de hoje não cabem em apenas dois

anos de residência. o resto do mundo

já se deu conta disso. Quase todos os

países praticam três anos ou até mais.

Na argentina, agora são quatro. está

muito claro que as transformações

epidemiológicas, bem como as mais

recentes descobertas da ciência exigem

do País a necessária sintonia no ensino

da medicina de crianças e adolescentes.

Temos levado esta discussão à Comis-

são Nacional de Residência médica

já há cinco anos. em janeiro, tivemos

uma conquista importante, quando foi

aprovada nossa proposta de ampliar de

um para dois anos a residência médi-

ca nas áreas de atuação de alergia e

Imunologia, Cardiologia, endocri-

nologia, Pneumologia, Gastroente-

rologia, Reumatologia e Nutrologia.

estamos coniantes de que será ouvido

nosso apelo em benefício da excelência

no atendimento de crianças, com os

melhores padrões internacionais.

Como avalia a proposta do gover-

no que garante bônus percentual nos

programas de residência àqueles

que atuarem no Programa Saúde da

Família?

EduardoVaz

– a sbP se posicionou

contrária. aproposta é contraditória em

sua essência, porque não ixa o prois-

sional na região para a qual for enviado.

ao contrário, incentiva seu retorno aos

grandes centros após um ou dois anos,

para a especialização. a atenção básica

é, na verdade, o nível de maior comple-

xidade assistencial não tecnológica e

requer formação especíica. É um sério

equívoco entendê-la como “simples”.

o recém-formado ainda não tem a

experiência e a habilidade necessárias.

acreditamos que a proposta prejudica

a população mais pobre e desqualiica

a Residência médica, desvalorizando

o mérito. É preciso pensar em soluções

reais, como um plano de carreira para o

médico no sUs, com promoção, valori-

zação, e com suporte, que o incentive a

trabalhar em todo o País.