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MARÇO/ABRIL 2012

ENTREVISTA

ophir Cavalcante

Foto: Divulgação OAB

Ophir Filgueiras Cavalcante Junior é mestre em Direito do Trabalho pela

Universidade Federal do Pará. Procurador do Estado do Pará e professor

assistente da Universidade Federal do Pará - UFPa (licenciado), presidente

do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, eleito e empossado

em 1º de fevereiro de 2010 para um mandato de três anos. Também

é presidente da União dos Advogados de Língua Portuguesa (gestão

2011/2012) e do Comitê Nacional para o Brasil da Union Internationale

des Avocats.

Qual a opinião do senhor sobre

a regulamentação da EC 29?

Ophir Cavalcante

– Infelizmen-

te, foi uma frustração para a socie-

dade brasileira que lutou por mais

de 10 anos para que a emenda 29

fosse regulamentada com destina-

ção clara dos recursos que a União,

estados e municípios deveriam apli-

car em saúde. o que aconteceu: a

União não tem um porcentual e

não deixou vincular qualquer valor

à variação do PIb, além de vetar

o prazo que estava previsto na lei

para que os investimentos ocorres-

sem. Tudo se fez e nada se fez. a lei

e nada parece a mesma coisa, pois

não resolveu o problema da saúde.

Foi apenas uma satisfação política.

É uma lei que não vai pegar; é para

inglês ver.

Por que a OAB decidiu apoiar

a iniciativa?

Ophir Cavalcante

– em razão

da identidade de propósitos e de

sentimentos. a amb e a oab

sempre tiveram uma boa relação,

mas ainda não tinham abraçado

uma luta maior como essa. a oab

se sente muito honrada em parti-

cipar desse projeto porque ele não

está ligado a uma classe, mas sim a

uma causa, que é o brasil ter mais

recursos para a saúde. Uma das

funções da oab é catalisar mais

pessoas e mais entidades para parti-

ciparem dessa luta. a ordem está

em mais de 900 locais no brasil e se

todos os advogados brasileiros, que

são em torno de 756 mil, assinarem

o projeto, teremos boa parcela das

assinaturas esperadas.

Qual o caminho que o projeto

deve percorrer para se tornar lei?

Ophir Cavalcante

– Coletar 1,

4 milhão de assinaturas em pelo

menos cinco estados brasileiros,

sendo o mínimo de 0,3% dos eleito-

res dessas localidades. desse modo,

poderemos levar ao Congres-

so Nacional. assim que entrar

na Câmara dos deputados, será

processado com uma lei de inicia-

tiva popular e seguirá o percurso

habitual de um projeto de lei.

Em quais outras ações sociais a

entidade está engajada?

Ophir Cavalcante

– as seccio-

nais da oab têm vários projetos no

âmbito social, como de assistência

jurídica em comunidades carentes,

e da saúde em parceria com a socie-

dade civil. Temos de ter em mente

que nenhuma categoria profissional

pode conviver sozinha. É necessá-

rio que a interdisciplinaridade seja

praticada. Nós só faremos cidada-

nia se tivermos a concepção de que

o mais importante é o todo e não o

indivíduo. Por isso, a oab procu-

ra cada vez mais entidades como a

amb para abraçar causas impor-

tantes que ela não teria condições

de fazer sozinha.

O Direito vive hoje proble-

ma semelhante à medicina, com

excesso de faculdades de quali-

dade questionáveis. Como vê essa

questão?

Ophir Cavalcante

– essa é uma

questão que preocupa a sociedade

brasileira, pois passa pela capa-

citação dos médicos e dos advo-

gados para atender às necessida-

des dos brasileiros. a falta de um

exame semelhante ao de ordem em

outras profissões como medicina e

engenharia nos causa perplexida-

de. É importante que as profissões

que lidam com bens vitais para as

pessoas tenham esse tipo de exame.

Não podemos deixar que os interes-

ses da indústria do ensino privado

nesse país acabem por impedir que

haja qualificação.

O que pode ser feito para

combater a abertura indiscrimi-

nada de novas escolas e também

o fechamento das consideradas

ruins?

Ophir Cavalcante

– Um traba-

lho frente ao ministério da educa-

ção mostrando a importância dos

mecanismos de fiscalização para

criar ou reconhecer cursos já exis-

tentes. Não podemos substituir

critérios técnicos por políticos, o

que, infelizmente, tem acontecido

no brasil tanto no direito como

na medicina. Não há condições de

fiscalizar as 1200 faculdades de

direto e as 185 escolas médicas que

existem no país. Por isso, é neces-

sário endurecimento da fiscaliza-

ção para exigir melhor qualificação

profissional dos professores, além

de um compromisso maior daque-

las entidades que deveriam buscar

o saber e a educação, mas infeliz-

mente tem buscado só o lucro. a

Comissão Nacional de educação

Jurídica, que tem por determinação

legal a possibilidade de dar parecer

em todos os pedidos de criação e

reconhecimento de cursos, embo-

ra não seja vinculativo, ajuda a ter

certo controle do que existe no país

em termos de faculdade de direito.

seria interessante que esse exemplo

fosse seguido por outras categorias.