E
mergência hipertensiva
em
pediatria
:
uma
abordagem
prática
e
atualizada
A
nais
do
V CONGRESSO SAMMG | R
ev
. A
ssoc
. M
ed
. B
ra
. 2016; 62 (
suppl
. 2):10-15
11
mática ou com sintomas inespecíficos, a correta aferição
da PA e a avaliação é classificação por meio das tabelas
de percentil é fundamental para definir a intensidade de
aumento da PA e para assegurar um desfecho favorável
1
.
O
bjetivo
O objetivo deste artigo de revisão é fornecer para acadê-
micos e profissionais da área da saúde informações sobre
a etiologia, o diagnóstico e o tratamento das emergências
hipertensivas em pediatria. Nesse sentido, serão abordados
aspectos práticos visando ao esclarecimento dos principais
pontos que permeiam a correta atuação clínica nessa condi-
ção, dando enfoque às causas, identificação correta e manejo
inicial desses pacientes. Além disso, cabe ao artigo servir
como guia rápido de consulta a fim de facilitar tomadas de
decisão e orientar condutas propedêuticas e terapêuticas.
M
etodologia
de
busca
Estudo realizado por meio de revisão bibliográfica da lite-
ratura especializada nas bases de dados PubMed, SciELO
e portal de periódicos CAPES, utilizando como descritores
“
pediatric hypertensive emergency
” e “emergência hiperten-
siva em pediatria”, tendo sido utilizados artigos revisado por
pares. Além desses meios, também foram utilizadas diretri-
zes publicadas por sociedades de especialistas e livros que
versam a respeito de urgências e emergências em pediatria.
D
iscussão
Diagnóstico da emergência hipertensiva
Toda criança acima de três anos, em seu acompanhamento
de puericultura, deve ter sua pressão arterial (PA) aferida,
segundo a Força Tarefa Americana (1987)
9
anualmente,
mesmo na ausência de quaisquer fatores de risco. Tal medi-
ção deve ser feita, preferencialmente, com a criança tran-
quila, em ambiente agradável, após cinco a dez minutos de
repouso, em geral, na posição sentada, com os pés no chão
e com o braço direito apoiado a altura do coração. O braço
direito é o preferido, pois as tabelas de referência utilizam
medidas desse membro e, também, pela possibilidade de
coarctação da aorta, na qual o pulso em membro superior
esquerdo é diminuído
10
. No caso dos lactentes, as medidas
devem ser feitas com o paciente deitado. Recomenda-se a
colocação do esfigmomanômetro cerca de 2 a 3 cm acima
da fossa antecubital, centralizando o manguito sobre a
artéria braquial
11,12
. A largura do manguito deve correspon-
der a 40% da circunferência do braço e seu comprimento
deve envolver, no mínimo, 80% do braço
13
.
Quanto à etiologia, a hipertensão pode ser classificada
como hipertensão primária ou essencial e hipertensão
secundária. A primeira é caracterizada por uma hipertensão
sistólica e/ou diastólica sem etiologia definida e a segunda,
por uma hipertensão sistólica e/ou diastólica em decorrên-
cia de uma doença de base. Até os 6 anos de idade, a hiper-
tensão primária não é comumente observada, ao passo que
ela representa 85 a 95% dos casos de hipertensão arterial
em adolescentes
14
. Em uma casuística brasileira, realizada
em um centro terciário, foi observado que 85% dos pacien-
tes atendidos possuíam diagnóstico de hipertensão arterial
secundária e 15% primária
15
. A trombose de artéria renal e
estenose de artéria renal são as duas principais causas em
recém-nascidos, nas crianças até um ano de idade as duas
principais causas são a coarctação de aorta e doença reno-
vascular. As duas etiologias mais prevalentes em crianças
de um a 12 anos de idade são a doença do parênquima renal
e doença renovascular, já entre 12 e 18 anos as causas mais
relevantes são a hipertensão arterial primaria, iatrogênica
e doença do parênquima renal
14
. As principais etiologias
das crises hipertensivas em pacientes pediátricos podem
ser observadas na tabela 1.
A literatura sugere que o aumento moderado da PA,
associado a sobrepeso ou obesidade, é mais sugestivo de
HAS primária, enquanto o aumento mais significativo
da PA, não associado a sobrepeso, torna mais provável o
diagnóstico de HAS secundária
13
. Entretanto, estudos mais
recentes afirmam que sobrepeso e aumento moderado da
PA não devem excluir o diagnóstico de HAS secundária
17
.
A conduta inicial de investigação pode ser pautada em
exames simples, podendo constituir-se de: urina rotina
(exame de análise do sedimento urinário - EAS), urocul-
tura, dosagem de creatinina sérica, eletrólitos, hemograma
e ultrassom renal. Em crianças com sobrepeso ou obesas
ou com PA acima do percentil 95, a pesquisa de comor-
bidades e de LOA deve ser realizada, devendo a última
ser sempre realizada em pacientes com crise hipertensiva.
Os exames devem incluir lipidograma, glicemia de jejum,
Tabela 1
Principais causas de crise hipertensiva em pediatria
16
.
Causas renais
Causas malignas
Vascular
Outras
Glomerolonefrite
(Especialmente
membranoproliferativa)
Feocromacitoma
Coarctação de aorta
(torácica, abdominal)
Má adesão ao tratamento prescrito para HAS
Uropatias obstrutivas
Tumor de Wilms
Estenose de artéria renal
Uso de substâncias ilícitas (cocaína, MDMA)
Insuficiência renal aguda
Neuroblastoma
Síndrome hemolítico-urêmica
Retirada abrupta de anti-hipertensivos
(clonidina, betabloqueador)