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NOVEMBRO/DEZEMbro 2011
entrevista
Florentino Cardoso
Foto: César Teixeira
Cirurgião geral e oncologista cirúrgico formado pela Universidade Federal
do Ceará, especialista em Economia da Saúde e em Capacitação Gerencial
de Dirigentes, Florentino Cardoso é um dos mais jovens médicos a assumir
a presidência da AMB. Nesta entrevista ao Jamb, Cardoso, cearense,
casado e pai de três filhos, diz como pretende dirigir seu mandato até
2014.
Qual será o foco principal do
seu trabalho à frente da AMB nessa
gestão? Há alguma prioridade?
Florentino Cardoso
– Nossa
prioridade
estará
voltada
ao
fortalecimento do médico e à saúde
com uma interface muito forte, uma
união extrema com as Sociedades de
Especialidade e com as Federadas.
Algumas áreas essenciais serão defesa
profissional, ensinomédico continua-
do e formação do médico, tanto na
graduação quanto na pós-graduação.
O que pensa sobre o Programa
de Valorização do Profissional na
Atenção Básica de Saúde proposto
pelo Ministério de Saúde para 2012?
Florentino Cardoso
– Eu acho
que aí tem um viés. Conhecemos
bem a atenção básica do Estado,
focada com um certo pioneirismo
nos agentes de saúde e nos PSFs do
governo. A partir do momento que
você valoriza quem vai para a atenção
básica, ranqueando-os nos progra-
mas de residência médica, pode ser
que nós não tenhamos mais médicos
interessados em fazer a residência de
Medicina de Família e Comunidade
aos moldes que desejamos e que o
Brasil efetivamente precisa. Imagi-
namos que um percentual grande
de médicos queira passar na atenção
básica para ter esse ganho na pontua-
ção da residência médica. Outro
fator é a lei de mercado, da oferta e
procura: a partir do momento em que
houver uma procura muito grande
pelo profissional de atenção básica, é
previsível que haja redução na remu-
neração do trabalho médico. E isso
não queremos efetivamente, porque
imaginamos que a atenção básica
deve ser a porta de entrada, valoriza-
da, com gente preparada, capacitada
para que resolvam suas demandas
que normalmente giram em torno
de 80% a 85% dos agravos em saúde.
Por outro lado, se nós teremos um
percentual grande de médicos advin-
dos somente após a graduação, talvez
não tenhamos gente suficientemente
qualificada para prestar atenção bási-
ca de saúde que o país necessita.
Como a AMB atuará em rela-
ção ao ensino, escolas e residências
médicas?
Florentino Cardoso
– Temos
observado ao longo dos últimos anos
uma avalanche de escolas médicas,
algumas autorizadas a abrir sem
estruturas tanto física quanto de
profissionais e conteúdo, o que vai na
contramão da oferta de um ensino de
qualidade. Abrir uma faculdade de
medicina sem um hospital de ensi-
no, por exemplo, é complicado. Além
disso, temos observado preponde-
rância das escolas privadas em detri-
mento das públicas. Outro dado
interessante é que nós, hoje, reconhe-
cidamente temos escolas de medicina
já abertas com qualidade inferior, e
portanto não adequadas para o ensi-
no médico. Devemos, antes de abrir
novas, corrigir ou fechar essas escolas
que funcionam inadequadamente. A
residência médica é fundamental
quando nós falamos de assistência à
saúde da população. Nós considera-
mos que o médico só com a gradua-
ção não está plenamente adequado
para atender a população brasileira.
Somos defensores de maneira contu-
maz da residência médica para assis-
tência da saúde à população.
Há planos para incrementar
o Programa de Educação Médica
Continuada e o Projeto Diretrizes?
Florentino Cardoso
– Sem dúvi-
da, e para isso vamos estreitar forte-
mente as relações com as Socieda-
des de Especialidade tanto com as
especialidades médicas quanto com
as áreas de atuação, de tal sorte que
possamos contemplar a todos os
médicos brasileiros com o programa
adequado de formação médica conti-
nuada.
Há alguma ação específica para
maior aproximação com os estu-
dantes de medicina?
Florentino Cardoso
– Com
certeza, nós já iniciamos um projeto
que vai ser amplamente divulgado
e implementado em que devemos
criar um braço da AMB relacionado
a todas as áreas da medicina, conec-
tadas com as faculdades de medicina.
Precisamos renovar as nossas entida-
des e se abrirmos espaço para os estu-
dantes e para os médicos jovens, nós
certamente estaremos sempre bem
oxigenados para que cresça ainda
mais o movimento associativo brasi-
leiro. Além disso, os estudantes vão
entender que não só a parte científi-
ca é muito importante, mas é preciso