residentes, com o objetivo de democratizar a
informação, e acabar de vez com a assimetria
que há entre o Norte/Nordeste e o Sul/Sudeste.
Por outro lado, preocupa-nos a inserção no
mercado desses novos cirurgiões que, não raro,
se acotovelam em grandes centros, gerando
uma verdadeira autofagia, quando, na verdade,
poderiam se deslocar até cidades médias ou
menores (de até 30.000 habitantes), cujas
populações são carentes da especialidade. Aqui,
eu me refiro não somente à cirurgia estética,
mas, especialmente, à reparadora (queimadura,
trauma, fissurados), que muito contribui com esses
municípios. Nesse sentido, queremos desenvolver
um trabalho de garimpo junto às prefeituras
para, quem sabe, estimular a ocupação dessas
localidades em todos os estados da federação.
Temos uma atividade solidária muito ativa por
meio do nosso Departamento de Ação Social,
que, com frequência, promove mutirões em todo
o país, atendendo populações carentes. Dessa
forma, tentamos minimizar o sofrimento dessas
pessoas, compensando a ausência dos órgãos
públicos, a quem caberia esse papel. Dentre
as diversas atividades, destacamos inúmeros
mutirões de reconstrução mamária, cirurgias
de fissurados, escalpelados (vitimados por
motores de barcos) e outras atividades.
Quais os problemas enfrentados pela
cirurgia plástica atualmente?
Voltando-me para fora, vejo com preocupação a
invasão da nossa especialidade por médicos não
preparados. Isto é, colegas que se utilizam de
cursos de finais de semana – cujos promotores
são muito bem remunerados, oferecem aulas
desqualificadas e, na maioria das vezes, destituídas
de quaisquer conteúdos científicos –, cumprindo
uma carga horária que, no máximo, chega a
400 horas, sem nenhum critério de seleção dos
alunos, sem que tenham formação em cirurgia
geral (somos obrigados a cumprir 2 anos de
cirurgia geral, antes de ingressar na residência
de cirurgia plástica propriamente, na qual
faremos mais 3 anos), e, o que é mais grave,
sem o reconhecimento por parte do Conselho
Federal de Medicina (CFM) e da própria AMB.
Temos uma formação acadêmica feita em 5
anos, que nos exige cerca de 14.500 horas, contra
as 400 horas desses invasores. Certamente,
este é um dos ingredientes básicos para
desencadear o caos no atendimento do paciente:
praticam, ou tentam praticar, determinadas
cirurgias plásticas, colhem desastres e
quem paga a conta, muitas vezes, somos nós, os
verdadeiros especialistas, uma vez que a mídia leiga
acaba por não divulgar os verdadeiros culpados.
Os valores dos principais procedimentos
de especialidade, que são pagos atualmente,
contemplam os anseios da categoria?
Infelizmente, os valores dos principais procedimentos
da cirurgia plástica, pagos atualmente, não contemplam
os anseios da categoria, tanto na saúde pública, como na
saúde suplementar. Diversos fatores levam a essa situação:
políticas governamentais, interesses dos gestores de
saúde, e até a falta de atuação dos próprios médicos.
Recentemente, a SBCP criou uma comissão de
honorários médicos, que tem como objetivo melhorar a
remuneração do cirurgião plástico, através da atualização
e inclusão de procedimentos na Classificação Brasileira
Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) e na
Terminologia Unificada da Saúde Suplementar (TUSS).
Em que patamar podemos situar a cirurgia
plástica brasileira a nível mundial? Está
suficientemente desenvolvida?
A cirurgia plástica brasileira, seja a estética ou a reparadora,
mantém um padrão de excelência que a nivela com a
americana, sendo considerada uma referência no mundo.
Há 3 anos, seguimos realizando o maior congresso
de cirurgia plástica do mundo, sendo que o
último (o 50º Congresso Brasileiro de Cirurgia
Plástica), em novembro, atingiu a marca de
2.700 inscritos, vindos de diversos países.
Contudo, não se trata somente de quantidade, mas,
sobretudo, da qualidade dos trabalhos apresentados,
da excelência na elaboração da grade científica e da
seleção do corpo docente que, além de contar com o
brilhantismo dos nossos colegas, é respaldado pelo que
há de mais conceituado e
up to date
em todo o mundo.
Atualmente, realizamos 8 eventos que compõem nossa
programação científica oficial, sem contar com dezenas de
atividades acadêmicas desenvolvidas pelo Departamento
de Eventos Científicos (DEC), Programa de Educação
Continuada (PEC) e pelos Capítulos (são 23 capítulos
envolvendo nossas subespecialidades e áreas de atuação).
Além disso, temos comissões permanentes
responsáveis por assuntos polêmicos, como
lipoaspiração e reconstrução mamária, entre outros.
Por derradeiro, estamos produzindo um livro-texto
escrito por membros da SBCP, que nos dará uma visão
holística e atual dos mais variados temas da cirurgia
plástica, e que servirá como referência e consulta, não
somente para os colegas em geral, mas, sobretudo,
para os 747 residentes que se formam anualmente nos
nossos 84 serviços credenciados, em todo o Brasil.
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março/abril
2014 •
JAMB
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