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MEDICINA

CONSELHO FEDERAL

CPI DOS PLANOS DE SAÚDE

“As empresas que

operam planos de

saúde são as líderes

absolutas nos

rankings de

reclamações dos

órgãos de defesa do

consumidor em

todo o país”,

disse Henrique

Fontana

Maio-junho/2003

“O que me motivou

a persistir na aprovação

da criação de uma CPI

dos Planos de Saúde foi

o grande número de re-

clamações dos usuários.

As empresas deste setor

são as líderes absolutas

de reclamações dos ór-

gãos de defesa do consu-

midor em todo o país”. A

afirmação é do deputado

Henrique Fontana (PT-

RS), que há mais de três

anos luta pela instalação

de uma Comissão Parla-

mentar de Inquérito que

investigue a atuação das

operadoras dos planos de

saúde. Dentre as princi-

pais queixas dos usuários,

estão o abuso na alega-

ção de doenças preexis-

tentes, o aumento das

mensalidades nas mudan-

ças de faixa etária e a limitação do atendimento.

Todas estas queixas se referem a comportamentos

desumanizados que repugnam a consciência

médica.

A CPI, instalada no dia 11 de junho, realizará

estudos e promoverá audiências públicas que pos-

sibilitem traçar um diagnóstico da atuação das em-

presas que atuam no setor - que movimenta, em

média, R$ 23 bilhões por ano e atende cerca de 35

milhões de brasileiros.

A criação e o funcionamento desta Comissão

Parlamentar de Inquérito foram o tema central da

entrevista concedida por Henrique Fontana (PT-

RS) ao jornal MEDICINA.

MEDICINA - Quais motivos o levaram a

apresentar o requerimento que deu origem à CPI

dos Planos de Saúde?

Henrique Fontana -

Batalho pela instala-

ção desta CPI dos Planos de Saúde há três anos.

O montante que este mercado movimenta é mui-

to alto, cerca de R$ 23 bilhões por ano. Soma mui-

to próxima ao valor que o governo federal desti-

na anualmente para a Saúde: R$ 25 bilhões. Mas

o que realmente me motivou a persistir na apro-

vação da CPI foi o grande número de reclama-

ções dos usuários. E a situação se agravou nos

últimos anos, em função do conflito entre médicos

e empresas. Existe, em alguns casos, uma chanta-

gem de caráter econômico. Ressalto que não es-

tou generalizando. Isso não acontece necessaria-

mente em todas as empresas. Mas temos conhe-

cimento de inúmeros casos. Há médicos sendo

ameaçados de descredenciamento por cumprirem

de forma exemplar sua função. As empresas ale-

gam que pedem exames demais. E esta pressão

indevida feita pelas operadoras pode gerar sérios

danos à saúde da população.

MEDICINA - No dia 5 de maio, o Instituto

de Defesa do Consumidor, IDEC, lançou uma

campanha para revisar as regras de aumento

por mudança de idade nos planos de saúde. Isto

porque a nova lei de planos de saúde conferiu às

operadoras o direito de aumentar o valor das

mensalidades em função da mudança de idade do

consumidor, além de praticar o reajuste anual.

Porém, a dinâmica proposta para a aplicação

dos reajustes faz com que os idosos, justamente

os que mais necessitam dos serviços oferecidos

pelos planos, sejam “premiados” com os maio-

res percentuais de aumento. A CPI pretende to-

mar alguma providência em relação a este abu-

so ou contra as outras reclamações dos usuários?

Henrique Fontana -

Sem dúvida. O aumen-

to exorbitante de preços, principalmente na faixa

etária de pessoas idosas, é a reclamação mais re-

corrente em relação aos planos de saúde. Eles ini-

ciam a cobrança com o valor de pagamento possí-

vel para o cidadão de 30 a 40 anos. Depois, quan-

do ele chega aos 50 anos, as operadoras promovem

aumentos astronômicos que vão crescendo confor-

me aumenta a faixa etária do usuário. Isso é uma

exploração econômica de quem paga um plano de

saúde por 30 anos e quando mais precisa da assis-

tência médica – na velhice - não tem condições de

arcar com os preços abusivos. Durante este perío-

do, a operadora já acumulou sobras em relação ao

consumidor e depois se livra dele com um mecanis-

mo perverso de alta de preços. São abusos como

este que me motivaram a implantar a CPI, e ela cer-

tamente verificará questões que envolvam even-

tual descumprimento da lei e irá encaminhá-las ao

Ministério Público.

MEDICINA - Já existe um cronograma de

trabalho definido para a atuação da CPI?

Henrique Fontana -

Posso adiantar que num

primeiro momento vamos trabalhar com o Ministério

Público e os órgãos de defesa do consumidor, levan-

tando as principais denúncias dos usuários dos pla-

nos de saúde. Faremos uma investigação criteriosa,

profunda e, ao mesmo tempo, equilibrada no sentido

de ouvir todas as partes envolvidas. Com isso, qual-

quer plano poderá ser investigado, assim como qual-

quer situação. Mas as denúncias serão priorizadas.

MEDICINA - Serão propostas modificações

nas leis que regulam a atividade do setor?

Henrique Fontana -

Os limites das lacunas

da lei serão analisados e as operadoras, usuários, ór-

gãos de defesa do consumidor e associações médi-

cas serão ouvidas. Vamos fazer um diagnóstico am-

plo deste setor e um credenciamento universal po-

derá surgir a partir dele. A conclusão poderá apon-

tar para mudanças no arcabouço geral da lei. Há

inúmeros projetos tramitando no Congresso Nacional

referentes a planos de saúde. Só eu sou autor de

cinco ou seis projetos que propõem alterações nos

planos de saúde. Um deles propõe o credenciamen-

to universal, proposta que já defendo há alguns anos.

O paciente escolhe e se credencia a um plano de

saúde e a empresa paga o médico escolhido pelo

usuário. A empresa estipularia apenas o valor da

consulta e o paciente fica livre para escolher onde

quer se consultar. Outro, pede a obrigatoriedade da

cobertura de medicamentos de uso contínuo. Um

terceiro, o fim da divisão entre planos ambulatoriais

e hospitalares, dentre outras propostas.

Saúde suplementar e a CPI dos Planos de Saúde

Nas décadas de 80 e 90, o Estado passou de

provedor a regulador de inúmeros serviços públicos,

alegando que a iniciativa privada teria condição de

administrar tais serviços de forma mais eficiente.

Para fiscalizar, guiar, corrigir e suplementar as

falhas do sistema de mercado, como a falta de com-

petição, a assimetria de informação e a vulnerabi-

lidade do consumidor, foram criadas as Agências

Reguladoras.

Porém, uma pesquisa divulgada em março pelo

Instituto de Defesa do Consumidor, IDEC, com

sete das principais agências (Aneel, Anatel, Anvisa,

ANS, Inmetro, Banco Central e Secretaria de

Defesa Agropecuária), mostrou que esses órgãos

têm obtido desempenho insatisfatório. Em quesi-

tos como transparência, efetividade em prol dos

consumidores e mecanismos para a solução de pro-

blemas, o melhor conceito obtido foi

regular

.

Veja a seguir o desempenho da Agência

Nacional de Saúde Suplementar, ANS, na pesqui-

sa (considerado como

muito ruim

):

Problemas do setor

Histórico de problemas e abusos re-

correntes

Diminuição na rede credenciada

Exclusão de procedimentos e impedi-

mento de acesso aos serviços de saú-

de

Preços abusivos e proibitivos aos ido-

sos

Problemas de relacionamento entre

consumidores e operadoras

Altos índices de reclamação

Regulação econômica

e regulamentação técnica

Exclusão de procedimentos

Autorização de reajustes por alteração de faixa etá-

ria

Problemas na regulamentação das doenças e lesões

preexistentes

Revisão técnica que permite às empresas impor al-

terações unilaterais, como reajustes de mensalidades

ou redução dos hospitais e laboratórios credencia-

dos ao plano de saúde

Passos: direção fiscal e/ou técnica; ressarcimento

ao Sistema Único de Saúde – SUS

Fiscalização

Baixo índice de aproveita-

mento das multas aplica-

das contra as operadoras

(de 46,6 milhões de reais

a ANS arrecadou cerca de

0,5%)

Assessoria dep. fed. Henrique Fontana

Deputado

federal

Henrique

Fontana,

presidente da

CPI dos Planos

de Saúde

Avaliação da ANS pelo IDEC