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316

Jamb Cultura 2017; 13(43):313-320

Crônica

Lua de mel, lembram-se?

A

ssim chamava-se “antigamente” o período ime-

diato à cerimônia do casamento, já o casal cons-

tituído, marido e mulher, ansiosamente sonhado

e esperado pelos então noivos por constituir a conquista

de sua autonomia, o coroamento e um prêmio pela de-

dicação e pela amizade recíproca. Não tinha tempo pré-

-determinado e, para aqueles casais que bem se ajusta-

vam por anos e anos, eles mesmos diziam orgulhosos e

felizes que o seu casamento era “uma eterna lua de mel”.

Essa fase da vida, como tudo o que nos cerca, tem tam-

bém sua história, dependente dos costumes de nossos

ancestrais. Assim é que temos, pelos historiadores con-

sultados, três versões sobre sua origem: a romana, a ger-

mânica e a babilônica. Pela primeira, consta o derrama-

mento de mel, pelo povo, pelas dependências da casa dos

nubentes. Para os germânicos, o casamento era sempre

na lua nova, com os noivos levando a mistura de água e

mel (hidromel) para beber ao luar. Na terceira versão, co-

lhida da Antiguidade, cerca de 2000 anos a.C., na Babilô-

nia, o pai da noiva oferecia ao genro o mesmo hidromel,

para ser consumido por eles nos 30 dias que se seguiam

ao casório. Como na época vigorava o calendário lunar, o

costume era chamado de “lua de mel”. Isso, quando tudo

dava certinho.

Voltemos pois à atualidade, quando, na segunda me-

tade do século XX, começamos a observar que o costu-

me começava a sofrer modificações. Lamentavelmente,

essa bela fase romântica, de algumas décadas para cá,

desapareceu, fruto da liberalidade que vem comandan-

do a nossa sociedade, que, infelizmente, está sem forças

e sem condições de reagir, impor e disciplinar o compor-

tamento dos nossos jovens, embriagados pela sexuali-

dade reinante na TV, cinemas, “liberdade de imprensa”,

somados à omissão dos colégios e das igrejas na forma-

ção religiosa e educacional do adolescente.

Não nos cabe, nestas breves considerações, deixar de

nos referir a alguns problemas que, eventualmente, sur-

giam para os jovens casais de então, totalmente alheios

às sutilezas sexuais, principalmente as jovens noivas, que,

desinformadas, recusavam as gentilezas do noivo, já ma-

rido, em sua alcova nupcial, apesar de algumas delas já

terem sido sutilmente advertidas por suas mães que algo

novo iria aparecer nas suas vidas. Nem sempre dava cer-

to, pois não eram raros os casos em que o problema ter-

minava no escritório do advogado ou no consultório do

psiquiatra. Na verdade, eram poucas as mães que eram

francas com as filhas, pois elas mesmas acanhavam-se de

entrar em detalhes. Os noivos, muitos deles, deram tam-

bém o seu

show

de ignorância, contribuindo e agravan-

do para a decepção do quadro. Hoje, como vemos, esse

problema sumiu de vez. Não têm constado ultimamen-

te nas várias estatísticas da OAB nem de Clínicas regis-

tros de atendimentos de casos decorrentes dos nos-

sos velhos costumes...

Mário V. Guimarães

Ginecologia

Recife – PE