Jamb Cultura 2016; 7-8(37-38):281-288
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Crônica
Homem com agá
E
Deus criou o homem. No sétimo dia, descansou. A
mulher, Eva, veio depois, gerada a partir de uma cos-
tela de Adão. Assim nos ensina a Bíblia Sagrada, no
Velho Testamento.
A partir desse contexto bíblico, o homem passou a ser
considerado como o ser dominante e, como consequência,
um dominador. O dito sexo forte, musculoso e viril colou e
atravessou a linha do tempo.
A simples referência ao masculino não implicava, neces-
sariamente, que estávamos qualificando o homem. A abran-
gência era universal, atingindo machos e fêmeas.
Assim, por exemplo: os alunos do colégio e os torcedores do
time da cidade referiam-se, também, às alunas e às torcedoras.
Mas, no Brasil, damos um“jeitinho” em tudo, até para pi-
sar na língua portuguesa e massagear o ego da primeira mu-
lher presidente do nosso Brasil. Agora, temos uma presiden-
ta. E ai daquele, no governo e nos órgãos oficiais, que não a
trate pelo feminino. Faz beicinho, engrossa a voz e diz que
vai denunciá-lo ao criador dela. O infeliz linguarudo termi-
na demitido. Coisa de marqueteiro baiano!
Assim, as nossas estudantes, quem sabe, passarão a ser
denominadas estudantas, e não se fala mais nisso! Em bre-
ve, o feminino de boi não será mais vaca, mas “boia”; e a do
carneiro será “carneira” (pele de carneiro curtida); a do ca-
valo, “cavala” (tipo de peixe do Nordeste).
É bem verdade que o assunto trouxe apaixonadas e aca-
loradas discussões de cunho político partidário, com os prós
e os contras de professores e políticos. Parecia que o gover-
no iria editar uma Medida Provisória (MP) ou um programa
Mais Mulheres para regular a nossa língua, e com certeza
seriam aprovados no Congresso.
Existe o masculino de pizza? Acredito que não. Podemos
até criá-lo. Considerando que tudo por aqui acaba em pizza,
poderíamos dizer que “tudo acaba em pizzo”, visto que os po-
líticos “pizzam” na Constituição, na população e nos médicos.
Mas voltemos ao ser homem.É inegável que o sexo forte está
em franco regime de emagrecimento, do tipo anorexia mór-
bida, que pode levar à extinção da raça. É quase letramorta de
samba, do tipo o“homemacabou, acabou”...Mas vai ter que se
soerguer! E por aí, vamos cantando e dançando, literalmente.
Para piorar a nossa situação, a ciência tem demonstra-
do que será desnecessária a participação do homem na pro-
criação. Assim, o cromossoma masculino Y fica desabonado
no processo da reprodução humana. As mulheres se multi-
plicarão com os X+Xs delas e os homens perderão a função
de reprodutor ativo na copulação.
Recentemente, estivemos em Fortaleza (CE), estado re-
conhecido pela intelectualidade e sabedoria de seus filhos.
Acreditem, o motorista que nos levou ao hotel informou que
um fazendeiro, reconhecidamente inteligente, descobriu que
se for adicionada água de coco ao líquido espermático utili-
zado na inseminação artificial entre o boi e a “boia”, quer di-
zer, a vaca, só nascerão fêmeas. Segundo ele, o experimento
é válido para todos os animais da fazenda!
As mulheres com competência e criatividade vêm ocu-
pando os espaços e, frente ao nosso apetite diminuído, vão
se apoderando dos hormônios que seriam nossos, fortale-
cendo os músculos, o intelecto e ascendendo sexualmente,
econômica e politicamente. Parabéns! Como se diz no “Clu-
be do Bolinha”, elas trepam na escala sócio-sexual e os ma-
chos vão saindo de cima... Que pena!
O cearense é também conhecido pelo humor e por seus
humoristas, que sempre nos encantaram e divertiram. No
Mercado Central e na Avenida Beira-mar, encontramos toda
a sorte deles. Nas camisetas e nas placas, encontramos péro-
las, como uma que nos atinge no que nos é mais sagrado. Diz
o seguinte: “Homem é igual à vassoura, sem pau não serve
pra nada”. E assim, vão direto ao assunto. Quem não concor-
dar que atire a primeira pedra.
É, senhores... Se os cabras machos brasileiros não se des-
pirem das fantasias do machismo e da potente ereção para
levar as fêmeas ao delírio, seremos carcomidos e não con-
seguiremos sequer a ejaculação precoce.
Antes de pensarmos no “pau ereto”, o melhor será man-
ter o pau inteiro sem amputações e a próstata limpa sem
“caroços” pelos dedos de um bom urologista. Sem os devi-
dos cuidados, vamos precisar de vários novembros azuis ou
roxos – do saco – para comemorarmos a saúde do homem.
O nosso lema será: Mais Saúde, Mais Homens com H
maiúsculo e Menos Saco Cheio.
José Luiz D. Mestrinho
Cirurgia geral
Brasília – DF