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ais uma vez, dirigimo-nos aos médicos brasileiros, às

nossas federadas, sociedades de especialidade e de-

mais entidades médicas com os mais sinceros agra-

decimentos, pela união e luta conjunta em diferentes episódios

pelos quais temos passado na busca por melhorias para a saú-

de, a medicina e o médico brasileiro. Não tem sido fácil o atual

momento, emque se avolumam crises, e tentamdesqualificar o

trabalho médico. No entanto, juntemos as forças e lutemos pe-

los nossos ideais e pelas causas coletivas que teremos sucesso.

A Associação Médica Brasileira (AMB) tem atuado de ma-

neira firme, com a maior rapidez possível dentro das possibi-

lidades. Sabidamente, o governo federal não tem conduzido

o país pelo rumo certo, notadamente na educação e na saúde,

mas também emdiversos outros setores. A inflação aumenta, o

desemprego e os juros também elevam-se, surgemmais e mais

pessoas envolvidas em corrupção, levando o Brasil à piora pro-

gressiva em seus indicadores sociais, econômicos e financeiros.

A abertura desenfreada de escolas de medicina preocupa

sobremaneira, pois a qualidade não está sendo observada com

o rigor necessário, priorizando-se somente a quantidade. Envie-

sam-se números e camuflam-se indicadores. Falam agora que o

Brasil precisa ter 2,7 médicos por 1.000 habitantes (índice do Rei-

no Unido). Isoladamente, isso não é garantia de bons indicado-

res de saúde. O Brasil tem várias cidades com índice superior a

esse (ex.: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília) e como

é a saúde pública nesses locais? E para falarmos da gestão dire-

ta doMinistério da Saúde, falemos do atual momento vexatório

do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que já foi modelo em as-

sistência, ensino e pesquisa na área. Hoje, está sucateado, amea-

çado e abandonado, e seus pacientes esperam“chegar a sua vez”.

Mesmo existindo uma lei (pasmem) exigindo que o paciente

com diagnóstico de câncer inicie o tratamento em até 60 dias,

não se respeita. Se isso ocorre no Inca, na cidade do Rio de Ja-

neiro, imaginemos o que está acontecendo nos rincões do Brasil.

E a Pátria Educadora? O governo federal já cortou quase R$

10 bilhões do orçamento da educação (na saúde, já cortaramqua-

se R$ 13 bilhões). O ensinomédio é péssimo,o fundamental deixa

a desejar e o superior agoniza. Se observarmos as instituições fe-

derais de ensino superior (Ifes), é crescente o número de greves

de funcionários técnico-administrativos, de professores e tam-

bémde alunos. A“salvadora” Empresa Brasileira de Serviços Hos-

pitalares (EBSERH) – já se fala em máculas a sua imagem – não

tem administrado adequadamente os hospitais universitários

federais, inclusive com compras a preços não transparentes. Vol-

taramas cartas-convites? Diminuíramos pregões eletrônicos?

Escolas médicas são escolhidas “a torto e a direito”, ou

por meio de critérios que, diferentemente dos do Reino Uni-

do, são politiqueiros. Há fila de políticos no Ministério da Edu-

cação querendo uma faculdade de medicina em seu municí-

pio. Escolheram municípios para sediar curso médico que não

têm condições mínimas de estrutura em sua rede de assistên-

cia à saúde, sem falar da qualidade de docentes ou de suporte à

pesquisa. Pode-se falar em curso médico qualificado sob esses

critérios? No momento em que escrevo, há 257 escolas médi-

cas no Brasil, commais 36 municípios já escolhidos e outros 22

em fase de seleção. A grande maioria é privada, com elevadas

mensalidades. Já se diz que, para ser médico no Brasil, basta ter

de R$ 6 a 7 mil por mês durante seis anos. Criaram-se as escolas

para os ricos, e pior, muitas sem qualidade.

Precisamos urgentemente avaliar todas essas escolas e

seus egressos, sejam elas públicas ou privadas. Feita de manei-

ra independente, e não como quer o governo, fazendo tudo e

mal. Deve-se avalia-las e punir a que não tiver padrão mínimo.

Como se concebe uma escola médica ter nota 2 (em escore de

1 a 5) em uma avaliação do Ministério da Educação e continuar

funcionando normalmente?

Tem sido o governo do Mais Médicos ruins, mal formados

ou não avaliados. Pena que não são esses que atendem o go-

verno, que, com nossos recursos, são recebidos em hospitais de

excelência e por profissionais muito bem treinados. Por que o

governo federal não repatria médicos brasileiros que se desta-

cam fora do Brasil? São muitos, dedicados e competentes, que,

se tiverem boas condições, retornarão ao Brasil.

Continuamos dizendo que a grande concentração de mé-

dicos nas capitais e grandes cidades melhoraria com a carreira

de estado para médicos da atenção básica. Vamos valorizar es-

ses profissionais e, assim, mudaremos o perfil assistencial do

país. Não pode o governo fazer um discurso e praticar o con-

trário: desvaloriza a atenção básica, incentivando recém-for-

mados (via Provab, p. ex.) a fazer “rodízio” na estratégia saúde

de família e comunidade. Continuam alarmantes os casos de

hanseníase, de tuberculose multirresistente, de dengue, para

não falarmos dos mutilados pela violência do trânsito, que não

conseguem ter tratamento digno, pela incompetência do go-

verno. E o que dizer do elevado número de pacientes diabéticos

com membros inferiores amputados, pois não conseguem re-

vascularizar seus membros pela demora excessiva e pela falta

de condições para os cirurgiões vasculares?

E, por último, o governo fala no Mais Especialistas. Que nos

responda as perguntas: quantos especialistas o Brasil precisa?

Em que áreas? Para trabalhar onde? Com que regime de contra-

tação? Com que remuneração? A AMB esteve, está e estará sem-

pre à disposição para ajudar o Brasil, independentemente de go-

vernos, pois queremos políticas de estado feitas com seriedade,

compromisso, qualidade e honestidade.

A saúde é nosso bem maior e o povo brasileiro merece

respeito!

Florentino Cardoso

Presidente da AssociaçãoMédica Brasileira

Falam agora que o Brasil precisa ter 2,7 médicos por 1.000

habitantes (índice do Reino Unido). Isoladamente, isso não

é garantia de bons indicadores de saúde. O Brasil tem várias

cidades com índice superior a esse (ex.: São Paulo, Rio de Janeiro,

Porto Alegre, Brasília) e como é a saúde pública nesses locais?

Palavra do Presidente

Crédito:AMB

JULHO/AGOSTO

2015

JAMB

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