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JAMB Cultura 2015; 5-6(35/36):273-280

277

Conto

Que lugar é esse?

Os olhos do menino cintilavam de emoção. Na sua ida-

de (10 anos, se tanto), já tinha uma avidez pelo conhe-

cimento, e tudo que passava a sua frente era registrado

e decodificado. Se não conseguisse essa proeza, tenta-

va desvendar o mistério. Procurava ler a respeito (mes-

mo com a idade ainda tenra, já tinha interesse pela lei-

tura) ou perguntava aos adultos que o rodeavam. Sua

família, proveniente do interior, tinha, no número de

filhos, o diferencial. Seus pais tinham uma dezena de

filhos, de diversas idades, interesses e conhecimentos.

E o menino procurava o seu lugar, adquirindo o conhe-

cimento que lhe caísse nas mãos ou lhe penetrasse pe-

los ouvidos ou pelos olhos.

Os passeios habituais da família, aos domingos, res-

tringiam-se a banhos de mar na praia de Boa Viagem

(posto 6) e ao aeroporto do Ibura, para assistir a pou-

sos e decolagens de aviões. Remodelado, o aeroporto

recebeu outro nome: Aeroporto Internacional do Reci-

fe/Guararapes. Ajardinado, com três áreas de acesso ao

público para acompanhar o movimento dos aviões, era

um dos passeios preferidos de famílias e de namorados,

que preferiam o mirante do segundo andar, com

seu caramanchão.

Tudo era novo aos olhos do menino: os

aviões Convair da Pan Air, os Super Conste-

lation da Real Aerovias. Todos enchiam de

beleza os seus olhos curiosos. Mas uma coi-

sa logo o intrigou: onde fica o

smoking

? Pro-

curou na memória alguma referência, mas

só lhe veio aquele traje que seus irmãos mais

velhos usavam, alugados na alfaiataria e tintura-

ria Papaléo para festas de formatura, que, na época, exi-

giam traje de gala. Mas era uma roupa e não um lugar.

Sua curiosidade o aguçou mais: onde ficava esse tal

de

smoking

?

Não se conteve e fez a pergunta ao irmão mais velho

que, naquele dia, o acompanhava no passeio.

– Onde fica o

smoking

?

O irmão, surpreso com a pergunta, não soube respon-

der. Mas não ficou na resposta negativa, ávido que era,

também, por mais conhecimento. E lhe devolveu a per-

gunta para obter alguma pista que o conduzisse à res-

posta tão ansiosamente esperada.

– Ora, por que você está fazendo essa pergunta? Não

sei onde fica esse

smoking

.

E ele não o fez esperar. Levando o irmão pelo jardim

térreo do aeroporto, aproximou-se o quanto pôde da pis-

ta de manobras dos aviões. E, ali, estava a origem da tão

intrigante pergunta.

Junto à pista de acesso, bem visível, estava uma pla-

ca de advertência:

É PROIBIDO FUMAR

NO SMOKING

Paulo Camelo

Patologia clínica

Recife – PE