JAMB Cultura 2015; 5-6(35/36):273-280
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Poesia
Bem-me-quer
N
ão, não vá embora ainda...
Brindemos aos nossos corpos nus,
Como taças desse encorpado vinho,
Num banquete que ao prazer conduz.
Bebamos mais uma vez deste
bordeaux
,
Antes que se esgote desta ânfora
O maravilhoso gosto do amor
E a despedida nos afaste deste ninho.
Já se aproxima a alvorada
E o tempo urge.
Quero pegar os raios solares,
Através das frestas da cortina,
E, com um feixe de luz, iluminar o teu rosto,
Teus olhos e teu corpo de menina.
Quero ver através da camiseta
O que de mais belo a brisa corteja.
Contemplar teu vestido branco esvoaçando,
Pela transparência que a luz enseja...
Deleitar-me na contemplação da tua silhueta.
E, no ritmo dos teus passos leves e femininos,
Caminhar contigo pela relva verde e orvalhada,
Colhendo flores, despetalando bem-me-queres,
Sem rumo definido, nem hora de chegada.
Brincar de esconde-esconde entre os cajueiros
Que ornamentam as colinas verdejantes,
Mordiscando teu colo virginal
À guisa dos frutos nos canteiros.
Amada minha, dá-me tua juventude,
Teu sorriso angelical,
Dá-me tuas dores, tuas virtudes.
Faz de mim um inóspito campo
Para absorver o teu pranto,
Mescla-te a meu corpo, despida,
Sem espaço para espaço, nemmesmo virtual,
Para que nossa saudade encontre guarida.
Jair Oliveira da Silva
Anestesiologia
Rio Branco – AC